a relatividade das pequenas

domingo, fevereiro 16

se eu começar agora a praticar-estudar guitarra, com 50 anos eu posso começar a pensar a ter uma banda. Em 5 ou 10 anos mais podemos estar fazendo shows em algum clube para crianças maduras. Com sorte um grupo de jazz, talvez. Serei um coroa tocando uma guitarra semi acústica lá no canto só fazendo a cama para o trompetista. E contente. Poderemos fazer aquelas piadas entre nós durante o solo de baixo, ou bateria, que ninguém entendeu até hoje (inclusive nós, nem os solos nem as piadas).

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E agora para algo diferente...

Não cantar o refrão duas vezes.
Dar um dedo para não entrar numa discussão. Não dar dois para não sair.
Trocar uma droga por outra. Sono com insônia. Misturar as águas.
Não ser irônico. Nem sério. Ignorar uma coisa para chamar a sua atenção.

Quando a comunicação que conhecemos falha.

Quando ele quis dizer que estava tendo um momento de realidade, e isto soou duro demais.




quinta-feira, fevereiro 13

Os veados ou cervos ou sei lá da capa do Pet Sounds eu desenhei. Sozinhos. Ao invés dos Beach Boys eu escrevi o título de duas músicas do disco: I just wasn’t made for these times e Let’s go away for a while. Lembram aquela escultura com renas (?) Do Nauman. Tudo sempre vai lembrar alguma coisa porque foi movida por outra.

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Pra onde vai o mundo, vai todo mundo.

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eu vivo em pleno terceiro mundo (sim, o conceito errado) em Londres.
Minha morada, um lugar lamentável.
Densidade demográfica não democrática. Ditadura das massas.
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onde cair vivo?

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O nome do vídeo é Rebelião das Massas, e mostra uma pessoa participando de uma manifestação coletiva. Sozinha. Está gravado além da memória. Mas ainda não selecionadas as partes e combinadas de forma a compor uma melhor apresentação e subsequente fruição por parte de alguém cujo gosto desconheço.

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Fomos ver trabalhos recentes de Chuck Close na White Cube e era o mesmo Close das reproduções. Pareceu menor, apenas um efeito. Na sala menor da galeria estava uma exposição (que não estava no jornal) da Louise Bourgeois. Ela sim me faz querer rasgar e amassar.
Antes havíamos visto uma expo coletiva contemporânea e foi muito fraca. Não deu nem para rir, o que parece ser um critério valoroso aqui em Londres. Então não rimos. A galeria Vitoria Miro é linda, vale a viagem. Os trabalhos pareciam uma caricatura de arte contemporânea adornando o espaço.
Então depois Bourgeois.
Eu sou extremamente condescendente com arte, mas certas comparações são fatais.
Coisas palpáveis. Realmente irônicas porque tocam em feridas reais, cujo sentido nunca vai ser entendido, apenas tocado, sem ser vencido. Não é arte heróica. Não é arte inteligente. Vive numa profundeza além do racional, e por isso é humano.

“What modern art means is that you have to keep finding new ways of expressing yourself, to express the problems, that there are no settled ways, no fixed approach. This is a painful situation, and modern art is about this painful situation of having no way of expressing yourself. This is way modern art will continue, because this condition remains… It is about the hurt of not being able to express yourself properly, to express your intimate relations, your unconscious, to trust the world enough to express yourself directly in it.”

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Gospel

Huge correction: Resonance FM. Não sei se é ela que ouço agora, quase nunca se sabe certo. Nunca se sabe nada certo. Enfim, uma missa é o que ouço, que é engraçada porque tem um tom de canto gregoriano misturado com latim e inglês e um leve toque de orientalismo. Ou seja, estou perdido. Acontece que tem rádio aqui para todos os povos. Muita música indiana, caribenha, turca. Vai que é um ritual mesmo e que estou ouvindo com ouvidos experimentais como se fosse a rádio, “art of listening” como se intitulam. Estava achando bizarro, irônico, caricato, profundo, transcendental e sarcástico. Mas o que é um ritual visto de fora? De qualquer forma, o propósito da rádio está cumprido. (E não era. Parece romeno).

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Não acho que a filosofia pode ser substituída pela arte. É até meio bobo discutir isso hoje. Para as nossas angústias talvez não existam remédios mesmo, só formas diferentes de escape. E ainda a arte pode ser uma perigosa radicalização de codificar tudo, dar significado e forma à tudo. Arte é arte, só.
É ela a criação de novas formas de dizer as mesmas coisas? Tem quem diga sim.
Godard disse que é a exceção da regra.

E se fosse a materialização da vontade de fazer arte?
Coisa em si.



È um aspirador de pó molestando sua cabeça.
São meus dedos comidos.
Mas pode ser a vontade de não dar significado ao mundo.
Papéis com desenhos na parede. Papel de parede.
È uma prótese.
Placebo.
Pode ser a radicalização do cotidiano, como hiper-realismo.
O anti-cotidiano, o anti lugar comum, o anti entendimento, o anti senso antítese
O anti técnico, o anti especializado.
Não sei que isso possa ter a ver com morte.
Anti comunicação
Escapismo talvez. Mas por escapar leio dar um passo à frente, ou para trás, para ver de outra forma. Isso em tese, sempre.
Não se foge do mundo, ele é que foge de nós.
O mundo nos foge.

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Minha cabeça pende na parede como um animal caçado.
É a morte.
É uma foto.
Meus dedos comidos. O fim (os fins) da angústia.

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Fiz um livro. Que a Marina pudesse ler. Ela tem 7 anos. Uma carta de 50 e poucas páginas que desenhei e escrevi num impulso só. Só vou fazer isso agora. Não confio em ninguém com mais de 7.






quarta-feira, fevereiro 5

Uma Economia Baseada na Necessidade
Por que promovemos coisas como vídeos? Pura diversão. Arte em geral. Atitudes que podemos chamar até de políticas, se quisermos.
Gravei um vídeo sem idéia no papel. Mesmo. Parque, frio, desolação. Eu como ator simulando uma manifestação coletiva, um comício. Sorte que o Barberá não questiona ou argumenta muito, porque a democracia neste caso igualmente seria contraditória: não me siga, estou perdido. Algumas situações discretas sempre acrescentam no fim.

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Tempo sem exposições. Gastei um dinheiro honesto em uma feira de galerias porque queria saber o que era arte vendável. Não porque queria, como parece, alimentar-me contra o conceito sobre a arte-que-se-vende, mas porque preciso aprender sobre o mercado. Narciso também procurou desenhos manchados entre molduras baratas e até encontrei um pouco. Mas do todo eu realmente não gostei e fiquei com dó do dinheiro em si. Engraçado ver Basquiats e Picassos e muitos trabalhos bons tb, e tão próximos do meu cálice de vinho tinto que recebi no momento feira-confraternização-vamoslogocom isso, em uma indulgência de vernissages, mas com dimensões de feira.

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Sanctuary.

Você nunca sentiu um peso de ser você mesmo? NÂO enquanto celebridade. De ocupar muito espaço, de estar no caminho dos outros? Como se mesmo em um refúgio você estaria sobrando, mesmo em uma ilha sem uma pessoa sequer?
Claro que não.

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Dear deer

Então ontem movido pela falta de espaço na minha própria residência (aliás, qual é o nome para isso que chamamos de casa mas é como um abrigo de refugiados?) Abrindo parênteses: sei, eudeviavermesmooqueéserumrefugiadoparareclamardavida. Vá lá, não é tão ruim, poliana. Fui para a casinha.
Meu fan heater esgarçando sua resistência e um vinho não estavam chegando aos pés, que batucavam Daftpunk, nada de graus, 2 da manhã.
Mas fiz uns 10 desenhos bem engraçados, tb movidos por raiva e descompressão. È bom. Hoje fiz uma ilustração do Beuys "explicando pinturas para uma lebre morta", com um gato no colo.
Emprestaram-me um livrinho de desenhos que me inspirou. Ou distraiu-me, como fazem com crianças.

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domingo, fevereiro 2

Brian Eno e seus cartões para os músicos durante gravações:

“Troquem instrumentos agora”

“Honre seus erros como intenções escondidas”

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Lembrar é não viver I

Lembro que uma vez estávamos de saco cheio de ensaiar (Urro, 1994 -1998), então inventamos uma brincadeira. Depois do “um dois três” cada um começava a música que quisesse. Mas não me lembro se chegamos a tocar tudo até o fim. Seria um show em si.

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p l a c e bopl a c e b o
p l a c e bo p l a c e b o
p l a c e bopl a c e b o
p l a c e b o pl a c e b o
p l a c e bo pl a c e b o
p l a c e bo pl a c e b o
p l a c e b opl a c e b o
p l a c e bo pl a c e b o
p l a c e b op l a c e b o
p l a c e bo p l a c e b o

()

Não tendo fé acendo vela para talvez não torcer errado?
Meu sangue não ferve.
Gosto de músicas realmente emotivas, baladas rasgadas.
Mas meu sangue não ferve.
Se visto uma gravata pareço um delinquente.
Não quero fazer sentido. Mas faço.
Não quero falar. Nem existir.
Não sou meu currículo.
Lá estão brechas que não sei explicar.
Gosto de baladas rasgadas e contrastes.
Estive grudado no teto e embaixo da cama maior parte do tempo.
Eu não tenho senso de preenchimento de lacunas.
Gosto de certas coisas pelas quais talvez meu sangue ferva.
Mas quem sabe a fervura chegará.

()

entrei pelos fundos no palácio da rainha
tentei sorrir como me mandaram. Mas nossa, que falso.
Até um padre sabe que minto.
Respeitamos o que não conhecemos.

()

Uma exposição de arte:
Um efeito colateral:
Uma contradição:
Um filme que você nunca vai entender e nem mesmo ver:
Se você pudesse mudar um aspecto em coisas perfeitas demais:
Uma chance em mil que você perdeu e nunca soube:
Um amigo que você sabe ser uma pessoa completamente equivocada:
Uma coisa extremamente irresponsável que você fez:
Uma coisa quente e suculenta que você fez que daria inveja a todas as mentiras do Henry Miller:
Uma coisa que você fez e não contaria nem ao diabo no seu ombro:
Uma personalidade que você admira mas que todos dizem ser uma pessoa completamente equivocada:
Um lugar detestável:
As pessoas a sua volta que você já desejou a morte para dizer logo em seguida “deus o livre, que horror”:
Perguntas com respostas embutidas:

()

Estou carcomido de uma sessão de nu artístico, onde emprestei minha carcaça para que outros façam o universal a partir do particular por linhas. Ao todo umas 4 horas alternando posições a cada 10 minutos, algumas rígidas, de fazer o corpo tremer no primeiro minuto. Numa delas o aluno inventou de congelar um gesto de alegria (um Yessss! o mesmo que o vendedor de lanchas viu num filme, mas acho que o aluno pode usar isso numa ilustração, vai saber). E eu de cara pensei em dor. Então fiz um Yesssss! de 10 minutos. 10 minutos enrijecido, dobrado, tremendo e pensando em cada músculo como tendo vida própria. A melhor noção de anatomia é a noção dos próprio corpo? Mas não é conjunto, conjunto é desenho. E gostei. Só não consegui pensar em arte, só em sistema educacional de universitário e porque estavam aqueles 22 seres (duas turmas) tendo aula com modelo vivo.

()

Hoje passei na frente de uma loja de instrumentos e os funcionários (mais para os donos) estavam fazendo uma jam, sem nenhum cliente. E fiquei tentando pensar o que aquilo simbolizava em relação à felicidade, mas tive que cuidar para não cair por que nevou de novo e caminhar é um ato cauteloso.



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