a relatividade das pequenas
domingo, fevereiro 1
Salve.
Encontrei o Santo Expedito no aeroporto de Miami, dormindo atrás dos bancos da imigração, enquanto eu aguardava a liberação do meu passaporte e da minha pessoa em trânsito. Você é livre para seguir as regras, pois. Saí antes dele, que dormia pesadamente com um New York Times cobrindo-lhe a cabeça para o tornar invisível. Ou indisponível.
O João Vítor tb tem um truque para ficar invisível: seu boné.
Fiquei 15 horas naquele aeroporto (livre para esperar o próximo vôo para Londres).
Quinze horas pensando em nada. Vazio como os balões dias após a festa de aniversário. Como as flores boiando em água fétida. Como a terra preta dos fogos de artifício.
Eu estava livre para não querer matar o tempo (que já nasce morto) passeando na terra do sol. Quis reduzir o deslocamento a um mínimo, onde pudesse esvaziar-me por completo. Sempre achei curioso em filmes quando a personagem está na solitária e conta seus passos para não perder a razão. Passou rápido até.
No aeroporto tem uma igreja multicultural. Consiste em uma sala com cadeiras voltadas para uma mesa com bíblias e afins e atrás um mural pintado com uma águia (estamos nos EUA) e aviões. A idéia de uma instalação vem tão rápido que já foi.
Traz toda aquela questão de não lugares, Marc Auge, à tona. A faxineira era a única pessoa na salinha de cultos e talvez limpasse almas.
Estou em casa finalmente. O ano começa segunda, Quando terei que estar renovado para
o emprego novo, na National Gallery. Mais um lugar de culto. Coragem e abnegação.
“O sujeito nunca está tão livre quanto no momento em que parte, nunca está tão preso,
desfigurado, quanto no momento em que chega.”
Essa é a perspectiva do estranhamento por imigrantes italianos em Porto Alegre entre 1920 e 1937, na tese da douta mãe Rose. Página 406.
Na mesma tese, também uma analogia rápida e muito boa com os contos de fadas. “Felizes para sempre” pode significar aos imigrantes que “os vazios foram preenchidos de alguma forma , ao menos na narrativa”.
Ela vai ter que transformar em livro para atrair mais leitores. Porque é uma ótima leitura e grande pesquisa. Sua historicidade não encerra os fatos em gabinetes, mas abre gavetas e detém-se em causos que foram extraídos dos fatos por uma suposta falta de objetividade, o que não entra na linha de tempo, por assim dizer. Daí contrapõe subjetividade com os fatos marcantes e/ou marcados.
Ela cita Mallarmé: “definir é matar, sugerir é criar”.
Divide suas categorias entre Partir, Transitar e Chegar. Usa a história oral muito bem e passeia por milhares de notícias que saíam no Correio do Povo e que de alguma forma ou de outra envolvia os imigrantes moraneses.
Impossível não cruzar com a minha experiência, a do Rafa, a nossa. Bastante intenso.
Parece que dormi dois dias. Sonhei com a Consu me esperando na escada e me abraçando. A casa arrumada e bela, a Matilda no fundo, sempre verde. Bebemos vinho e namoramos.
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Encontrei o Santo Expedito no aeroporto de Miami, dormindo atrás dos bancos da imigração, enquanto eu aguardava a liberação do meu passaporte e da minha pessoa em trânsito. Você é livre para seguir as regras, pois. Saí antes dele, que dormia pesadamente com um New York Times cobrindo-lhe a cabeça para o tornar invisível. Ou indisponível.
O João Vítor tb tem um truque para ficar invisível: seu boné.
Fiquei 15 horas naquele aeroporto (livre para esperar o próximo vôo para Londres).
Quinze horas pensando em nada. Vazio como os balões dias após a festa de aniversário. Como as flores boiando em água fétida. Como a terra preta dos fogos de artifício.
Eu estava livre para não querer matar o tempo (que já nasce morto) passeando na terra do sol. Quis reduzir o deslocamento a um mínimo, onde pudesse esvaziar-me por completo. Sempre achei curioso em filmes quando a personagem está na solitária e conta seus passos para não perder a razão. Passou rápido até.
No aeroporto tem uma igreja multicultural. Consiste em uma sala com cadeiras voltadas para uma mesa com bíblias e afins e atrás um mural pintado com uma águia (estamos nos EUA) e aviões. A idéia de uma instalação vem tão rápido que já foi.
Traz toda aquela questão de não lugares, Marc Auge, à tona. A faxineira era a única pessoa na salinha de cultos e talvez limpasse almas.
Estou em casa finalmente. O ano começa segunda, Quando terei que estar renovado para
o emprego novo, na National Gallery. Mais um lugar de culto. Coragem e abnegação.
“O sujeito nunca está tão livre quanto no momento em que parte, nunca está tão preso,
desfigurado, quanto no momento em que chega.”
Essa é a perspectiva do estranhamento por imigrantes italianos em Porto Alegre entre 1920 e 1937, na tese da douta mãe Rose. Página 406.
Na mesma tese, também uma analogia rápida e muito boa com os contos de fadas. “Felizes para sempre” pode significar aos imigrantes que “os vazios foram preenchidos de alguma forma , ao menos na narrativa”.
Ela vai ter que transformar em livro para atrair mais leitores. Porque é uma ótima leitura e grande pesquisa. Sua historicidade não encerra os fatos em gabinetes, mas abre gavetas e detém-se em causos que foram extraídos dos fatos por uma suposta falta de objetividade, o que não entra na linha de tempo, por assim dizer. Daí contrapõe subjetividade com os fatos marcantes e/ou marcados.
Ela cita Mallarmé: “definir é matar, sugerir é criar”.
Divide suas categorias entre Partir, Transitar e Chegar. Usa a história oral muito bem e passeia por milhares de notícias que saíam no Correio do Povo e que de alguma forma ou de outra envolvia os imigrantes moraneses.
Impossível não cruzar com a minha experiência, a do Rafa, a nossa. Bastante intenso.
Parece que dormi dois dias. Sonhei com a Consu me esperando na escada e me abraçando. A casa arrumada e bela, a Matilda no fundo, sempre verde. Bebemos vinho e namoramos.
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