a relatividade das pequenas

quinta-feira, julho 3

Casa nova. Fomos convidados a sair da última. Nesta, só há nós mesmos para incomodar. Gostamos muito da privacidade, da nossa calmaria e do nosso furacão.
Acabo de sentir o chão tremer.

Moramos em um estudio ao leste de Londres. O melhor lugar do mundo possível. Não tenho mais aquela casinha no fundo da casa. Agora o trabalho será ainda mais compacto, modular, minimal, caneta, anotações. Esboços para pinturas murais em capelas efêmeras, em santuários (santuary = refúgio em inglês), projetos, andamentos, problemas, não soluções.

É preciso estar atento e forte. Faz um ano e meio que mais do que .......................nunca.



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Os cariocas que conheço são saudosistas ao extremo da sua boa vontade. Um deles me empurra o Ela é carioca do Ruy Castro que folheio com complacência até encontrar Oi-tee-see-kha. Diz que ele foi encontrado vivo depois de quatro dias agonizando no chão da sala de sua casa após um derrame. Um “happening”, segundo o autor do verbete (Hélio Oiticica; Helô Pinheiro...). Bem que ele buscou fazer de sua arte algo menos visual e mais sensorial, musical. Diz que ele via e ouvia as pessoas tocando a campainha, colocando bilhetes sob a porta, mas que não podia falar.

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Talvez tenha começado quando nos mudamos para este estúdio em Hackney. Ou quando fomos na Tate e vimos a instalação do Bill Viola, onde uma pessoa interrompia a paz das águas em um mergulho, feito renascimento, morte, insistência, desistência. Vimos tb a Paul McCarthy esmurrando a própria cara, masturbando-se com ketchup, sendo um boneco teimoso na vida. E muito pode ter sido quando finalmente deparamo-nos com as quatro estações do Cy Twombly, que foram pinturas fortes, muito fortes, e eu quis fazê-las, e atirar toda a instabilidade e canalizar minhas vontades e reações.

Quero encontrar uma representação visual para o que estou sentindo. Posso ver um esboço em tela. Cores e formas esmaecidas por camadas de tinta. Coisa que já fiz, outros já fizeram, mas que vale. Significa para mim um encontro de águas da minha confusão com o mundo. Minha raiva, meu amor, minha sincera vontade de fazer certas coisas. Quero que quando alguém as veja, sinta um cansaço do mundo e uma vontade de fazer mais. O motor cego ou invisível. As idades, as vontades, por certo as frustrações e a teimosia. A arte vence o duelo porque nós acabamos e ela mantêm-se indecifrável. Propomos novos enigmas, e ela se diverte.

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Fizemos a tal da abertura da exposição dos meus desenhos no Foundry. Pegamos um canto do mundo, fiz minha parte, alguns vieram, bebemos sensivelmente, porque assim celebramos os momentos inesquecíveis (com um grande provedor de amnésia). Estava bem. Dormi como um anjo cujo diabo saiu do corpo. Primeiro dia de férias: Paris existe.

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Estávamos sem Internet em casa. O mundo sem TV, jornal diário e a Rede ganha dimensões possivelmente mais íntimas. Grande alienação diriam. Li sobre o Butão, último país do mundo a ligar a TV. 46 canais via satélite. Pensaram de forma budista que as pessoas devem buscar a felicidade, e a TV seria mais uma parada no caminho.
A corrupção, furtos e violência aumentaram. Mas a TV não mata uma mosca. Ela não pode nada.

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