a relatividade das pequenas

terça-feira, dezembro 10

Por menos que o gosto diga alguma coisa, nada vai transcender a sua esfera. O começo e o fim de uma mostra tem essa marca. Claro, tem todo o resto, mas de quantos restos é feita a vida? Tenho pau e não quero fazer uma canoa. Li um grafiteiro que diz que um pedaço de madeira esculpida não vai ao fogo. Mas lembro de um conto do Caio Fernando Abreu em que as pessoas no frio queimaram tudo que viam pela frente, incluindo a consciência (ou ela foi a primeira?).
Eu escrevi uma carta para os suicidas e não salvei. No entanto ela apareceu. Foi a resposta? Not likely.

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tenho exposições importantes para ver. Por enquanto estou fazendo cera. Elas são boas mesmo, e dependendo do nível de abertura de meus poros, pode ser perigoso. Veremos em que chão cairei, em que braços acordarei e qual será minha primeira pergunta banal.

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Projeto: desenho de memória de pessoas que conheço.
“Uma foto do seu rosto ganha o título de “os pensamentos de fulano””
Fulano pensado.

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Talvez se eu meditasse eu conseguiria ver a pintura como uma dissolução do ego. Mas não. Talvez eu simplesmente não goste mais de arte. Ou nunca gostei. Só estava procurando, caminhando para ver o que há no outro lado de uma curva, que na verdade é um círculo.
Ou uma lebre falsa para cães de corrida.
Ou um placebo.
Ou uma boneca erótica.
Ou uma pílula de ecstasy
Ou a promessa de amor/vida eternos.
Ou um pacto de sangue muito antigo.
Ou a subjetividade contra a objetividade.
Ou fogos artificiais.
Ou a sua sombra caminhando para ver o que há do outro lado.

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Mas isso seria platonismo. E eu não.
Talvez se eu pintasse eu conseguiria ver o ego como a dissolução da meditação.

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Preciso contar, para quem não sabe, a história das pinturas do Rothko que estão na Tate.
Eu sabia que ele tinha feito-as para um restaurante mas depois desistiu e doou para a Tate. Mas isso é pouco. Li um artigo do Guardian, de Jonathan Jones sobre o acontecido e começa muito bem: “Mark Rothko foi encontrado em 25 de fev. de 1970 morto deitado sobre um mar vinho escuro de seu próprio sangue. Havia cortado profundamente seus braços e a piscina emanando de si sobre o chão do seu estúdio media 8ft x 6 ft. Isto é, era a escala de suas pinturas. Era, utilizando um jargão da crítica de arte da época, um campo de cor.”
Conta que Rothko, então um pintor ainda mortal, recebeu a encomenda muito bem paga para preencher de telas um novo e poderoso restaurante chama Four Seasons em um novo e poderoso prédio na então Nova Iorque no auge do seu poder cultural, em 58. Ele aceitou. No entanto, depois de uma viajem à Florença e Pompéia ele devolveu o dinheiro e pegou os quadros. Associa-se sua pintura a uma espiritualidade forte (que tb dizem não ser nada disso) e que Rothko era politizado e engajado, tendo a vida marcada por ser imigrante Russo, Judeu e pobre. Depois de pintar os quadros ele embarcou num transatlântico e confidenciou para um jornalista depois de uns drinks que queria “arruinar o apetite de cada filho da puta que comer naquele lugar”. Nada sutil para seu temperamento. Mas o Jones encerra o artigo com a idéia de que Rothko viu que nenhum daqueles ricos daria a mínima para a pressão psicológica que as telas exerceriam sobre seus cardápios. E que seria mesmo uma decoração de luxo, que a arte não muda nada. Assim guardaria algo a consciência?
Os quadros chegaram em Londres no dia de sua morte. Dez anos depois de ter devolvido o dinheiro, o pintor doou à Tate nove telas, que lá estão como sangue congelado, naquela sala escura e sombria.

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E agora para algo completamente...
Em uma das fotos o artista está enrolado em um pano vermelho. Noutra seus gestos explicam o caminho das perdas. Noutra sua boca fala da beleza estética de uma equação matemática. Em uma das fotos está misturando tinta, e na seguinte imprimindo um livro. Fazendo de livros, sendo que agora parece estar comendo um livro ou sendo engolindo ou imprimindo sua face. “A verdade da sua retina”. Documentos e registros de performances, sim senhor.



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