a relatividade das pequenas
segunda-feira, outubro 7
ONDE FOI QUE EU ERREI
Descobri o rádio, e dentro do rádio uma estação chamada Residents FM que se auto intitula a primeira de arte do Reino U. E é muito boa, por vezes chata como toda boa arte, porque exige condescendência com a experiência da pesquisa, pois. Mas lá entre muitos sons estranhos e debates e trechos de Beatles como se alguém mudasse as estações ao quase à esmo, mas todos os sons juntos, os debates tb: camadas de sons, o que parece uma trilha de filme com corredor de bienal e seus DVDs e instalações. Na Documenta 11 tb tinha uma obra/espaço dedicado à sons e achei muito interessante.
Então sob a trilha desta rádio eu tenho feito (voltei) desenhos-pinturas-anotações com pincél e só tinta preta. Começa com uma oração a um santo, outro pedido, a data do meu nascimento, um jogo de palavras, os paraísos instantâneos, vários infinitos, borboletas, a letra de uma música, cubos à mão livre e o desenho do general que estava no poder quando eu nasci, o Geisel.
Gosto de pensar os livros não como rascunho, mas como obra com obras, portanto duas coisas quero fazer: uma reprodução, não mais tela, porque tenho achado inviável, mas explorar o papel. Isso não contradiz o tema destes arquivos uma vez que “pintura é vida” como diria o Renato Heuser. E isso muito mais para frente: displays com os livros abertos. Estou pegando os três e abrindo-os, compondo-os. É uma abertura. O bom é que esta composição de livros dá saída para os desenhos que gosto menos, porque é uma composição, e não mais uma imposição de uma página. E quando se vê os 3 abertos é só uma ponta de uma série, de outros momentos, outras preocupações, como a linearidade de um caminho, de fases que contrastam. E por trás (literalmente) estão muitos outros. É só virar as páginas e tem uma composição diferente. Posso combinar números: p3/livro1 + p 46/ livro2 + p 12 livro 3. E eu gosto da museografia desse tipo de mostruário. É científico, pedagógico e tem a aura da perdição dos rascunhos de uma pesquisa, de todos os lugares onde errei. Eu faria uma sala com vários mostruários e sintonizaria naquela rádio. Na verdade eu já fiz isso, mas não sistematizei, ou mesmo, já sistematizei, só não entendi e ninguém viu ou vai ver.
Porque a casinha onde fico, lá nos fundos da casa, casa essa que estranhamente tolera essa apropriação e as pessoas nem chegam perto, é um lugar em construção que gosto. Ontem tive essa sensação de personificação, de uma coisa que eu fiz e estou fazendo como um bicho paciente, ou aquela topeira Kafkaniana, a partir de uma casinha de compensado com telha de zinco e várias goteiras. A mesa suja de tinta seca, os livros abertos ou esperando para serem abertos, a cadeira verde, o som que ligo na rádio tal, as paredes com impressões que usei e a palavra Lust, teias de aranha, insetos, galhos de plantas da rua que estão cada dia mais dentro do espaço pelas frestas e a porta de vidro com o mundo enquadrado lá fora. Mas daquela casa não sairá um conserto, um utilitário, uma descoberta, nem ninguém mora, nem ninguém está convidado para ir lá e conversar sobre gostar de desenhar de vez em quando ou ver o que esta pessoa tanto faz. Aliás, fora a Consuelo, que tolera, as pessoas desistiram de ver quadros bonitos e inteligentes saindo dali direto para as paredes da casa. Eu passo pela casa com os livros e uma caneca de café. Eu estou concentrado, essa é a verdade. Eu preciso fazer isso e não me sinto confortável fazendo outra coisa. Eu estou apenas pintando um livro, outros livros.
Às vezes parece que a porta vai abrir e alguém vai entrar.
()
NOME, RIGOR
Meu comportamento inevitável me faz carregar como uma formiga (formigueiro de vidro no museu de história natural) livros e revistas, para olhar sem saber o que se está procurando. Colocamos coisas e mais coisas na nossa frente e eu sei que não devia, que devia despoluir as idéias, que eu já vi muito e agora deveria recriar. Eu tenho usado uma mochila para ir aos fundos. Se deixasse lá as paredes cairiam, transbordaria papel e tinta. Seria uma instalação com tom dramático, simbólico. Como a Cornelia parker, que pegou quinquilharias dede roda de carro até bonecas e mandou o exército exokodir, depois ela fez uma instalação com os objetos queimados, partidos. E o incêndio do auto de fé do Canetti. Nome, rigor. Nome, rigor, nome: rigor.
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Descobri o rádio, e dentro do rádio uma estação chamada Residents FM que se auto intitula a primeira de arte do Reino U. E é muito boa, por vezes chata como toda boa arte, porque exige condescendência com a experiência da pesquisa, pois. Mas lá entre muitos sons estranhos e debates e trechos de Beatles como se alguém mudasse as estações ao quase à esmo, mas todos os sons juntos, os debates tb: camadas de sons, o que parece uma trilha de filme com corredor de bienal e seus DVDs e instalações. Na Documenta 11 tb tinha uma obra/espaço dedicado à sons e achei muito interessante.
Então sob a trilha desta rádio eu tenho feito (voltei) desenhos-pinturas-anotações com pincél e só tinta preta. Começa com uma oração a um santo, outro pedido, a data do meu nascimento, um jogo de palavras, os paraísos instantâneos, vários infinitos, borboletas, a letra de uma música, cubos à mão livre e o desenho do general que estava no poder quando eu nasci, o Geisel.
Gosto de pensar os livros não como rascunho, mas como obra com obras, portanto duas coisas quero fazer: uma reprodução, não mais tela, porque tenho achado inviável, mas explorar o papel. Isso não contradiz o tema destes arquivos uma vez que “pintura é vida” como diria o Renato Heuser. E isso muito mais para frente: displays com os livros abertos. Estou pegando os três e abrindo-os, compondo-os. É uma abertura. O bom é que esta composição de livros dá saída para os desenhos que gosto menos, porque é uma composição, e não mais uma imposição de uma página. E quando se vê os 3 abertos é só uma ponta de uma série, de outros momentos, outras preocupações, como a linearidade de um caminho, de fases que contrastam. E por trás (literalmente) estão muitos outros. É só virar as páginas e tem uma composição diferente. Posso combinar números: p3/livro1 + p 46/ livro2 + p 12 livro 3. E eu gosto da museografia desse tipo de mostruário. É científico, pedagógico e tem a aura da perdição dos rascunhos de uma pesquisa, de todos os lugares onde errei. Eu faria uma sala com vários mostruários e sintonizaria naquela rádio. Na verdade eu já fiz isso, mas não sistematizei, ou mesmo, já sistematizei, só não entendi e ninguém viu ou vai ver.
Porque a casinha onde fico, lá nos fundos da casa, casa essa que estranhamente tolera essa apropriação e as pessoas nem chegam perto, é um lugar em construção que gosto. Ontem tive essa sensação de personificação, de uma coisa que eu fiz e estou fazendo como um bicho paciente, ou aquela topeira Kafkaniana, a partir de uma casinha de compensado com telha de zinco e várias goteiras. A mesa suja de tinta seca, os livros abertos ou esperando para serem abertos, a cadeira verde, o som que ligo na rádio tal, as paredes com impressões que usei e a palavra Lust, teias de aranha, insetos, galhos de plantas da rua que estão cada dia mais dentro do espaço pelas frestas e a porta de vidro com o mundo enquadrado lá fora. Mas daquela casa não sairá um conserto, um utilitário, uma descoberta, nem ninguém mora, nem ninguém está convidado para ir lá e conversar sobre gostar de desenhar de vez em quando ou ver o que esta pessoa tanto faz. Aliás, fora a Consuelo, que tolera, as pessoas desistiram de ver quadros bonitos e inteligentes saindo dali direto para as paredes da casa. Eu passo pela casa com os livros e uma caneca de café. Eu estou concentrado, essa é a verdade. Eu preciso fazer isso e não me sinto confortável fazendo outra coisa. Eu estou apenas pintando um livro, outros livros.
Às vezes parece que a porta vai abrir e alguém vai entrar.
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NOME, RIGOR
Meu comportamento inevitável me faz carregar como uma formiga (formigueiro de vidro no museu de história natural) livros e revistas, para olhar sem saber o que se está procurando. Colocamos coisas e mais coisas na nossa frente e eu sei que não devia, que devia despoluir as idéias, que eu já vi muito e agora deveria recriar. Eu tenho usado uma mochila para ir aos fundos. Se deixasse lá as paredes cairiam, transbordaria papel e tinta. Seria uma instalação com tom dramático, simbólico. Como a Cornelia parker, que pegou quinquilharias dede roda de carro até bonecas e mandou o exército exokodir, depois ela fez uma instalação com os objetos queimados, partidos. E o incêndio do auto de fé do Canetti. Nome, rigor. Nome, rigor, nome: rigor.
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