a relatividade das pequenas

quarta-feira, setembro 4

O Juba projetava filmes na fachada do vizinho com seu projetor 16mm, na rua Santo Antônio. O filme não importava muito, penso. A ação sobre o suporte era mais interessante, pois, acho. Eu acho, não encontro.

Já em duas festas aqui vi slides projetados na parede. Em festas e carnavais nos damos ao luxo. O resto é rotina, e dentro da rotina e dentro do carnaval nos damos ao lixo também.

((())

Falar. Alguma coisa que sirva para o vazio não caber em si.
Música ambiente. Frisos de flores na parede. Oca é a cabeça. Telas na parede do restaurante italiano. Hoje, se chover, choveu. O ano está voando normalmente. Fotos, muitas fotos do natal de 95. Estamos todos bem.



(())

E não tenho assunto. O assunto não me tem Fala abstrata. As pessoas preferem falar a ouvir. Gostava daquela brincadeira onde cada falava uma frase sem conexão com o que o outro dizia. Mudava de assunto radicalmente: “eu acho que vai chover em três dias’, e a resposta: “ se eles não fossem tão gulosos”, “ claro que o cachorro morreu!”.

()


No caminho para Kassel de Frankfurt parecia que só algumas famílias viviam. Do trem as estações pareciam mais e mais abandonadas, parando para ninguém entrar. Ficamos sozinhos com uma freira no vagão. Comecei a pensar que aquela Kassel era outra, que estávamos indo para uma cidade sem Documenta nenhuma.

Eu não sabia o que reclamar porque não esperava algo pronto. Aliás,


())))))


Ouço duas crianças chorando. Dura, dura. Então a porta de um veículo é fechada. Por fim e enfim, a música do carrinho de sorvetes perde-se no horizonte do ouvido.

(00


leio nalguma referência que a tenha (isso de não dar a referência é totalmente antiacadêmico) , de artistas como Tunga, para quem cada micro etapa do processo de feitura dos produtos artísticos é absoluto, portanto uma linha em grafite é uma escultura. Gosto disso. Se a imagem é o importante, não pensa-se no meio, penso. E não consigo parar de pensar no meio. Não que agora eu vá costurar o linho, mas penso com mais e mais intensidade na tinta, que é a culpada. A linha então é mancha.

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Kassel é linda. Cidadezinha alemã que promove a Documenta desde 55. Fui com olhos vazados, por que se estava procurando, sabia que não era lá que encontraria pintura. E despojado do egoísmo, posso aprender com outros meios, a poética dos outros. E vi muita coisa política, muita coisa poética, muita coisa vazia querendo estar cheia. Era uma Documenta política, o curador era nigeriano, a Documenta do terceiro mundo. A cada sala um contexto histórico e social deveria ser apreendido, senão a passagem seria inútil. Acho que em uma semana era possível. Então seleciona-se pois só teríamos dois. Havia muito muito vídeo, mas documentário. National Geographic demais até. Como se a interferência artística acabasse com a intenção. Mas a arte sempre foi uma usurpadora das mazelas. Mais recentemente das mazelas pessoais dos artistas.
Mas é uma delícia. E esta edição, também dentro do contexto descentralizador do globo, não contou com muitos artistas famosos, alguns, mas não eram “salas especiais”. Barrio e Cildo Meireles, este com uma instalação que só descobrimos na hora de ir embora: carrinhos de picolé sabor água a 1 Euro cada.

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Constable e Turner na Tate Britain. Landscape, londscape. Constable tinha obsessão com a representação das nuvens, que efêmeras, são incapturáveis. Ou ele gostava muito, ou tinha dificuldade, que às vezes dá no mesmo. Como a foto não é realidade. Então você caminha por uma série de paisagens que de súbito vira só nuvens. Uma corrupção do gênero. Comprou uma casa em Hampstead Heath para ver melhor. Fizemos um picnic lá num dia de verão. Já Turner não precisava da paisagem, tinha várias na cabeça.

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O básico para sobreviver. Um quarto para dormir, uma cozinha e um banheiro. O trabalho. As coisas representadas e respingadas, tocadas, participadas.

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Uniformes manchados de tinta. Paul McCarthy e seu papai noel manchando tudo de verde, como o sangue em um Massacre da Serra Elétrica. Todo o Desvio Para o Vermelho do Cildo Meireles. Chorume sob a terra. O leite derramado. Pegadas vermelhas denunciando sua passagem pela terra. A água, que limpa tudo e sai manchada. A pintura é simbólica. Meu sangue é azul.

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Sons, não músicas.

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Desvio Para Cildo

Hipotético tudo isso: queria ter uma white cube e baldes de tinta e um aparelho de som. Todas as músicas que ouvia enquanto fazia a pintura seriam reproduzidas ao contrário, porque seria um retorno a um momento, como se fosse possível. Músicas ao contrário tb
não são compreensíveis ou mesmo tragáveis. Arte não é lazer, afinal.
Não seria uma instalação, mas uma pintura.
Gostaria tb de fazer os sons para outro ambiente. Regional Klein Blues.





Comments:
Pelo que tenho percebido, quase ninguém mais, atualmente, tem tempo para nada. Mas mesmo assim a gente ainda acaba dando alguma satisfação para as coisas que nos dizem respeito, não é?
Agentes culturais ("artistas, etc") trabalham em tempo integral!!
 
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