a relatividade das pequenas
quarta-feira, setembro 11
a identidade
e a falta de
são violências.
Porque facilmente lhe emprestam
Ou mesmo
você paga para ter.
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você via o exército no verde
nós vemos uma futura ausência
todos nós vemos sangue no vermelho
Não existe zero
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falamos em estranhamento, deslocamento, recodificação. Falamos em mutação, desdobramento. Acho que o curador de Kassel pegou isso tudo e colocou sob um vídeo sobre esquimós, outro sobre um naufrágio criminoso de imigrantes na costa italiana, outro sobre trens entre a Europa oriental e a ocidental, e cada sílaba dos arquivos do Altlas group. Enfim.
Você quer um contexto, lhe daremos vários, pintor.
Vá cuidar de suas tintas, de suas rupturas formais, de seu véu sobre véu, de sua eterna reafirmação, de sua embolia entre a figuração-abstração-pop-diagrama.
pintor. Vá a sua merda e aos seus diabos.
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Cabular todos os encontros. Não estar nos bancos de dados, senão onde diz “pintura”. Um item, um milhão de entradas. E morta. Não constar nos temas de bienais e exposições em geral. Na memória, na subjetividade, na arte de engajar-se em um rio, etc.
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pessoas com nuvens na cabeça. Com ovelhas, santos e naves espaciais. Com jacarés, cobras e sapatos. Com amantes e finados. Sem cabeça, felizes, sem dente e comendo. Sem perna e pulando. Perucas imensas. Pessoas com a cabeça enfiada no rio. Pessoas dentro de uma casca de banana.
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O díptico de novo.
De um lado o realismo, que pode ser chamado assim por se aproximar do que conhecemos da amálgama entre a verdade em si e as fotografias. Estamos falando de um quadro, retângulo, pintado. De outro manchas, que podem ser chamadas assim por não representar nada além da tinta em si.
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“A couple is dancing; their image is revealed little by little, but tells nothing of their fate.” Sobre o cartaz do Boltansky que trouxemos de Kassel.
Ponto de ironia – ainda Boltanski. Aquele poster - que vem em forma de folder, onde dois folders formam a figura (porque deve-se usar ambos os lados) e cada folha é uma mancha irreconhecível - é divino.
Brincando de montá-lo errado, e realmente, se nada sabemos do destino do casal que dança, e parecem nossos pais em fotos amareladas, e em breve nós. Ao pegá-lo só um frame é possível ver, e não diz nada. Então, montando erradamente, como um jogo, e sou péssimo com jogos, as imagens são mais distorcidas ainda.
Queria ter agora uma caixa que estava “organizando” em casa com fotos de família, tentando usar não uma cronologia mas uma galeria de imagens. Gostaria de fazer isso com elas.
Esses dias recortei um rosto de uma revista. O parti ao meio e colei os lados invertidos, com uma distância ombro a ombro que então os fazem parecer duas pessoas posando. E a foto tb tinha essa aura de gaveta.
Então leio sobre Richter e tento apreender um pouco sobre seu uso de fotografias nas telas. Um misto de memória coletiva e pessoal, e ao mesmo tempo um não reconhecimento das imagens, a sua perdição. Barthes e a mentira. A pintura é mentira assumida desde o princípio (Hirst) e isso lhe garante liberdades. Richter e Boltansky falam de memória, e o poster do casal tem um ruído fantasmagórico e a própria imagem está distorcida, suja, como que captada de uma televisão mal sintonizada. Lembra sutilmente pinceladas. Luz, eletromagnetismo e tinta.
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Eu nunca estive tão confuso, mas ao contrário de outras confusões e ruídos prévios, estou empolgado. Como meus dedos a cada referência que trago, que ao mesmo tempo me desanima porque não posso fazer o que os outros fazem, mesmo que acabe fazendo. Essa é a contradição. Mas as artes visuais e temporais trazem sua bibliografia implícita. Mesmo que muitas vezes seja intransponível.
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Ciência. Consciência. Consistência.
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Viver 1 vez.
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