a relatividade das pequenas

sábado, dezembro 25

FELIZ ANO NOVO PARA VOCÊ O SEU VIZINHO E PARA O COLETOR DE LIXO.

Ich habe mich verirrt (estou perdido). Dienst ist dienst, und schnaps ist schnaps (dever é dever, trago é trago).

Gosto de Odair josé. Walter Franco tb. Nome brega, pinta de italiano e conceito.

Trabalho para trazer a salada. O conceito vem à noite.

Acordamos de noite no dia de natal.

Então eles começaram a falar alemão. Estava com a mãe na livraria e reproduzimos um diálogo de um livro: Eu estou grávida. Socorro!

Eu comecei minha vida universitária com um mês de idade. Coisas que você é recordado (passar pelo sentimento) quando sua mãe lhe visita.

Auf wiedersehen.





terça-feira, dezembro 14

My mother, who hates thunder storms,
Holds up each summer day and shakes
It out suspiciously, lest swarms
Of grape-dark clouds are lurking there;
But when the August weather breaks
And rains begin, and brittle frost
Sharpens the bird-abandoned air,
Her worried summer look is lost,

And I her son, though summer-born
And summer-loving, none the less
Am easier when the leaves are gone
Too often summer days appear
Emblems of perfect happiness
I can't confront: I must await
A time less bold, less rich, less clear:
An autumn more appropriate.

Philip Larkin: Mother, Summer, I (1953)



Mãe chega esta semana. Primeira vez em Londres, mas não na Europa. Ela vai achar razoavelmente frio. Pensará que o metrô é um formigueiro e que a maioria é imigrante (claro que ela vai pensar nos imigrantes e suas narrativas), vai assustar-se com o inglês propriamente falado, vai rir dos ônibus altos. Na nossa zona vai achar suja mas vai gostar de cara porque é onde moramos e ela sabe que das periferias saem Giottos, Rubem Gonzáles e psicóticos. Teremos uma ceia de natal, vegetariana, com pessoas que chamamos de amigos. Curtiremos minhas férias fazendo turismo com tempo para, por exemplo, sermos caminhantes levianos, sentar nas bibliotecas, rever pinturas favoritas, como as nuvens de Constable na Tate Britain e depois respirar o ar muito frio de Hampstead para ver o local onde ele pintou essas (outras) nuvens.
Depois iremos para Berlim. Por que Berlim?. Porque Berlim.
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Muito Antes

Eu não posso fazer nada, mesmo. Não depois de ter bebido vinho português, antes tomado uma pint (duas) de London Pride com a Consu, quando fui caminhando até ela, sem saber se seria um encontro, uma surpresa ou só um desencontro. Antes fui no Barbican (e há pouco vi uma vaga para trabalhar lá, na Internet ainda útil) ver uma exposição de graduandos e gostei de umas pinturas, o que prova que eu não tenho remédio (vídeo, performance, música, culinária, karaokê dominatrix, whatever) e saí de guia na mão para me perder, como a técnica é boa para a experimentação, como conhecer bem o braço do violão é bom para saber que som tirar quando quebra-lo.

What kind of long term goals can you possibly have?

Tracy Eminem é um menino imigrante com diploma superior em uma forma de arte desiludido consigo e somente consigo. Nunca pôs culpa no padrasto nem usou a palavra mazela. Adotou a estética quase punk subnutrida porque lhe coube. No entanto, seu trabalho não permitia nenhum acessório visível.

Se um dia fizer um raio-x das minhas telas, não quero anexado o momento exato em que desistia de uma e pintava por cima. Tinta, muita tinta. Dava para pintar as paredes de todas as casas que morei. Desistência ou resistência, pintar não preciso. É bom enquanto dura o ato, depois acho que não gosto de pinturas. Passam, trazem-me à tona outros olhos, que viram muito e não aceitam nada. Nascê-las é infantilmente bom. Desfaze-las é um alívio.
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'We are only human sculptors in that we get up every day, walking sometimes, reading rarely, eating often, thinking always, smoking moderately, enjoying enjoyment, looking, relaxing to see, loving nightly, finding amusement, encouraging life, fighting boredom, being natural, daydreaming, traveling along, drawing occasionally, talking nightly, tea drinking, feeling tired, dancing sometimes, philosophizing a lot, criticizing never, whistling tunefully, dying very slowly, laughing nervously, greeting politely and waiting till the day breaks.'
Gilbert the Shit and George the Cunt, 1970.

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Nothing Tolouse

Não sei se devo estar contente por poder finalmente lacrimejar e ver. Não, existe uma força maior ao meu lado que não me deixa gostar. Como não deixa registrar mais nada nos instituídos fins- de- expressão. Facilmente derrotado pela leviandade dos meus círculos.
Eis que vejo duas luzes verdes saindo desta máquina. Pelo prisma da água em meus olhos, posso brincar com as suas formas. Vaga-lumes capturados, afogados e deformados.

Há fantasmas nessa gravação. Eles vivem à toa.

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Uma menina com uma espécie de balão/deformidade na cabeça.
Mãos fazendo massagem cardíaca.
Dois pés com uma mão fazendo massagem contra cãibra.
Uma armadilha que não funcionou.
Pombas comendo algo esverdeado.
Bananas envelhecidas.
Um balanço pegando fogo.
Frutas, cores podres.
Figurativismo? Inescapável.
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P.O.P (Prisioners Of Pop) ou Agorafobia Já

Um programa de rádio onde se comentam as letras das músicas- de Odair José a Frank Zappa, de jingles a Baden Powel. De hinos de colégio a Queen, passando por cantos que fazem soldados correr.
Aliás vi um filme belíssimo chamado Beau Travail, na minha maratona solitária de filmes que começam comigo tendo um prato de comida qualquer no colo na cama e um cálice de vinho e as sirenes na rua marcando sua continuidade. Assisti até a Bergman achando que era um Bergman normal e era uma comédia sem graça. E fiquei sem graça depois por que queria algo como Morangos Silvestres ou coisa mais mofada.

Tipo 'pergunte ao seu orixá, o amor só é bom se doer'. 'O homem que diz vai, não vai'.
Ou analisando porque quase todas as músicas são sobre amor, ou porque quase todas as letras do Arnaldo Antunes podem ser cantadas para crianças. Ou porque pessoas como Cartola e Nelson Cavaquinho são os epicentros da filosofia de botequim 'Tire seu sorriso do caminho', 'o meu único defeito é viver pensando'. Outros: 'A minha dor não é a dor dela, a minha dor é doriana e a dor dela é adorela'; 'O celular do Naná é a lua.' Por aí vai.
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O ano da formiga

Então a menina Consu está em plena maratona de final de ano, trabalhando demais e ainda sobra tempo para me olhar e dizer que teve um dia maravilhoso, cometendo inclusive a injustiça, ou quem sabe a justiça, de dizer que foi dos melhores dias, e penso rapidamente em outros dias que enquanto se vivia não se fazia justiça. Que bom.

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Magic Mushrooms

Eu não sei o que colocam na comida daquele chinês em frente ao nosso prédio que as pessoas saem mais animadas que de clube. Falam e riem muito, abanam para a rua, procuram lanternas chinesas em retinas, juntam-se em uma posição fetal coletiva.

Aliás, o momento exato em que se acende a luz e é decretado o fim da noite em um clube, a chegada dos seguranças e a procura por casacos com a cara querendo sair do transe, é verdadeiramente engraçada.

Com a chegada do inverno, os espíritos (só os espíritos) saem às ruas para celebrar e festejar. Como em pinturas de Poussin, as bacantes voam sobre aqueles mais tímidos e lhes mostram o caminho para a perdição sazonal.
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Agora são Zero zero, zero zero da noite. Tiro a mão da boca. Sou um adolescente velho. Se pudesse, queimaria todos os trabalhos que fiz até hoje. Recomeçaria, perdido, mais curioso que anjo. Muitos anos depois terei flashbacks e espíritos subindo de escada com esses trabalhos queimados, que já lembravam outra coisas, que não sei mais o que são.
Começaria uma coleção de... Não, jogaria mais coisas fora. Gavetas, arquivos, artistas favoritos.

Outro dia o Guardian fez uma série de coisas que são clássicas mas duvidosas, como Nirvana, Pet Sounds do Beach Boys, Beatles, Bowie, Woody Allen, Blade Runner e Monty Python (esses dois últimos assisti outro dia e achei uma perda de tempo). Mas sem isso que chamamos de clássico estamos sem referência alguma, e nos damos muito mal sem elas. Novidade demora para ser digerida, e quase tudo que é impactante e maravilhoso depois vira suspeito. Faltou Tarantino na lista do Guardian. Tem Coppola o pai e a filha (muito justo com a filha e seu filme muito besta). Não tem Oliver Stone mas tem Jim Morrison, que naquele filme de merda aparece abrindo um show para a Love, que é formidável. Mas não, queremos ser bonitos, loucos e egocêntricos. Walter Salles devia estar. Portishead e Pink Floyd tb. Mas aí já é tão difícil fazer qualquer coisa, que não cabe execrar. Aliás, do Bergman, dizendo que artista bom é aquele que muda opinião de crítico.
Não consegui gostar muito do Evangelho segundo São Mateus, do Pasolini. Mas sei que muitos quadros na galeria que me sustenta são melhor curtidos com o tempo (alguns uns 700 anos) então não dá para disparar opiniões nem críticas benevolentes ou fundamentadas. É muito fácil criticar. E perco para qualquer Ratinho em uma discussão. Apelo para a baixaria, choro, vou acompanhado e sou vaiado.
Gostei daquele American Splendor, que o Rafa estava elogiando como Rafahell (seu nome trágico de guerra, ops, isso foi crítica) mas o personagem é um chato e o Robert Crumb naquele filme é uma celebridade chata. Mas queria que o Crumb fizesse histórias assim com os meus colegas de trabalho. Aliás outro dia saiu uma propaganda do Playstation com um colega meu com cara de entediado (coitado, ele estava só trabalhando) e embaixo escrito: Fun anyone? Fiquei possesso, afinal quem eles pensam que são, difamando o ganha-pão (e meu colega é uma pessoa quase aposentada)? mas daí lembrei que eu odeio games mesmo, então faz sentido eles não gostarem de óleo sobre tela se não contar pontos. Quer coisa mais POP que isso? Como dizer 'o maior guitarrista do mundo', 'a maior banda'...
Onde está a Consu?
... o maior cineasta de Porto Alegre, a maior banda nativista do Rio Grande do Norte, o Jornal de maior circulação da Lagoa da Conceição. A maior coleção de miniaturas de Timbuktu.
Mas no Guardian, aquilo foi uma pauta para tapar buraco do jornal, afinal é dezembro e eles são os primeiros a erguer pedestal sobre nossas cabeças. Mas é engraçado ver reportagens sobre a decadência das raves no Reino Unido e da música eletrônica em geral, grupos como Prodigy ou o Fat Boy Slim (não no Rio, onde acho que ele achou o sentido da vida)
E eles nem citaram as Artes Visuais, onde a mata é fechada. Aliás, o São Bastião Salgado está caçando gorilas.
E em breve estaremos nostálgicos dessa época (que já entrei atrasado) e com quarenta anos estarei rindo disso tudo olhando o presente como um efeito colateral do passado.
Falando em Pop, o dono de uma clinica de eutanásia em Zurich disse que a morte é algo que temos que nos acostumar, afinal a vida é uma doença contagiosa, transmitida por relações sexuais, onde a morte acontece em 100% dos casos.
Isso é papo de butequim.
Mas precisava postar e me expressar, quase regurgitar, porque evito falar sobre isso, mas faz parte de qualquer mudança fazer coisas que você não faz, começando pelas mais fáceis. Elogiar tb é estranho, porque é uma auto-propaganda, como que enxergar melhor a paisagem nos ombros de um gigante. Vou parar de estabelecer méritos e jogar pipocas nos macacos.

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O recorte de um mundo

Todas as manhãs contamos as telas na galeria nacional, cada um na sala onde começa o dia. Os visitantes vem e olham uma por uma. Quando vou à locadora olho as prateleiras. Pa-so-li-ni, Her-zog, Bergman, todos os filmes que temos que ver, mais World movie, comédia, drama, tragédia, comédia romântica, filmes feitos para o espectador de televisão, épicos com personalidades do ano, filmes em série que você tem que ver porque começou. Sangue, muito sangue. Mais sangue ainda. Filmes com sangue bem feitos, com alma até!
Depois vou ao mercado-super. Vinho italiano, português, plonksuperplonk. Comida vegetariana com referência animal Tandori curry Chiken-stile. Proteína. Tofu, magic mushrooms,
Em casa finalmente internet, leituras levianas, rádios pop, experimental, sua própria coleção de cds, os desenhos sobre a mesa, nas paredes.
Os relógios, os alarmes, os vizinhos fantasmas, as coisas.





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