a relatividade das pequenas

domingo, novembro 23

Dentro-fora
A mãe, genial que é, sabe muito bem a importância que tem a locução, palavra, voz própria de uma região e os problemas que enfrenta um imigrante nesse contexto de exclusão. No princípio havia o verbo, e depois um silêncio. Por outro lado, o exclusivismo é uma forma de defesa de quem (Aurélio) “repele tudo que é contrário a sua opinião.” Nesse glossário podemos “incluir” provincianismo, relativismo e a socapa (esta só porque encontrei no dicionário e quer dizer disfarce, fantasia).
Tal delírio é porque não posso resistir de fazer balanços de 2 anos partido. Uma das primeiras coisas que aprendi e por enquanto (olha o relativismo de novo, tempo, espaço, sujeito, objeto, cadeiras com rodas) é inexorável na minha lição é que um imigrante é um corpo estranho que quer entrar em um corpo aparentemente mais forte, benéfico, não importa os meios. Que lá no outro lado há alguma coisa interessante para a sua formação e existência, seja dinheiro, museus, ou uma identidade nova, nem que seja casado com um italiano chamado William.
Então, não que eu não soubesse, mas senti-me ainda mais encurralado por meus limites aqui. Descobri algumas facetas da invisibilidade, da incomunicabilidade, e que realmente devemos ouvir e aprender com o próximo, por estarem mais próximos que os profetas e os ditadores. Não sei se faço isso, mas sei que deveria ouvir os outros para entender o preconceito. De qualquer forma, se algo ficará disso, espero que seja a humildade.



sexta-feira, novembro 21

Dois anos em Londres. Dois anos que saí de Porto Alegre. Faz tempo. Vamos para o Brás dia 24, passando o natal no ar. Beleza, mais longe que isso da festa só realmente esquecendo que dia 24 se comemora natal. Lembro que o Rafa ficou dois anos longe, e no dia em que ele voltou eu e o Daniel bebemos tanto antes dele chegar que eu não me lembro exatamente como foi. Mas foi. E vamos. Acho que ele estará mais sóbrio que nós.
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Ouço Can. Muito bom. Quero ter uma banda assim. Estamos (The Collective) largando um poucos as canções para improvisar (expressão vazia essa). Eu começo um tema e ele entra com a poesia. Lá pelas tantas estamos cada um em um canto daquela casa, flutuando, até alguém ficar com sede, quando voltamos e ele simbolicamente pára o gravador.

))

Contramão da história ou testemunha. Galeria da rainha no Palácio fechada, para a visita do texano. Tive que ir mesmo assim para uma palestra sobre a nova expo, do “joalheiro” russo Peter Carl Fabergé e entre outras coisinhas, jóias que fez para a família imperial russa e a nobreza britânica. Aquela teve um fim e alguns dos imigrantes foram obrigados a se desfazer de algumas dessas peças cobertas de ouro e diamantes. Tempos atrás um destes “ovo de páscoa” feito por Fabergé foi vendido em Nova Iorque por 5 milhões de libras. Estão expostos três aqui. Quero ver o que me espera nessa exposição. O público certamente não é o mesmo do Leonardo da Vinci. A Royal family tb tem muitos objetos da finada realeza francesa.
A senhora Bush estava lá, visitando a galeria (que no caso de hóspedes e moradores é só entrar por uma porta que dá para o meio da galeria) e fazendo compras, aproveitando o espaço só para ela e a comitiva.
Enquanto isso o povo lá fora era assistido por milhares de policiais. Quando saí de casa, um carro-forte parou em um sinal e pessoas batiam nos vidros pelo lado de dentro. Tentei não entender. Para aumentar a minha contramão, tive que largar uns documentos na National Gallery, que fica exatamente na Trafalgar Square, onde estavam todos os manifestantes e um boneco do texano em papel machê pintado de dourado (parecia um Oscar). Mas foi tudo muito civilizado. Eu me senti muito contrariado por ter que ir até o palácio nesse contexto. Não acho que “ou você está conosco ou está com eles” tb se aplique aqui. Mas nessas horas fico muito contrariado com os dilemas das minhas resoluções e outros acidentes.
Mas ele é muito infeliz mesmo. Axis of idiots, como alguém falou.



quinta-feira, novembro 13

so far, so good

“Se alguém por mim perguntar
Diga que só vou voltar
Quando eu me encontrar”

(Acho que é isso. Cartolinha)

Vamos para Londres, depois da praia, da festa, da Disney. Para o céu, depois da terra, da água, do fogo. O quintal, depois da janela, da rua. O banheiro, depois da fome e do banquete. Parar, depois da subida e da queda. O mundo é um rabo. Os lugares não existem.
E Domingo mais uma despedida. Mais comemorados que aniversários.
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Lembro que Cartola já foi tabu em casa. Talvez só eu saiba. Talvez o tal tabu é mais um mito de infância. Mas lembro de alguém dizer-me “não toque essa”. Era uma das únicas que eu sabia. Já o pai sabe todas. De ouvido.
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E assisti em um download barato O Perfeição, do Rafa e me emocionei. A busca pela simetria no caos. O Paulo no final arrebatou-me.

Amanhã mais uma entrevista, mais um museu. Mais um nervosismo. Estou meio cansado de mentir e sorrir. Tenho pintado bastante e entro em outro mundo.
E mais o Brasil, e depois a volta.
Tem aquela da menina que foi passear de cavalo na praia e o cavalo não parava, nem dava meia-volta. Então, resignada pensou: então vou até Porto Alegre que lá eu me acho.
Vejo um cavalo chegando sozinho, amarrando-se ao Laçador.
Deve ser porque é uma viagem tão marcante. Mas se pensar nisso agora não penso em nada. E há muito a ser pensado. Há?

Compramos uma TV/DVD, mas apesar da irresistível pressão do universo da TV, ainda não é hora de religarmo-nos ao mundo Dela. Foi inaugurada com o Revolt, um eu-é-um-outro vídeo meu.

Vejo a Consu tão pouco. E amo tanto ela.

Já estamos rindo disso tudo.

Olhe a paisagem prometida pelo pai, orgulhoso. Pergunte-o: e se mudar? E o que a vista não alcança?

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Isso ontem. Hoje seco um cálice de vinho ouvindo eufóricos saindo do som.
Alívio pós entrevista de emprego na National Gallery. Não estando exatamente achando isso muita pretensão, fui muito mais tranquilo, apesar do fato de que tenho vergonha de falar até com cobrador de ônibus. Três pessoas com um questionário cada em uma mesa grande. Mais um pouco é aquele programa Roda Viva. Dois de uniforme. Quase ri durante, pensando que eu estava irritantemente preenchendo as lacunas nos lugares certos. Começo a pensar que só por isso não vou pegar esse trabalho, e que outra coisa vai aparecer. Mas é tentador pensar naquela imensidão de quadros e passar o dia inteiro vendo pinturas. David Hockney fez uma série usando como modelos os warders de lá, testando uma técnica que Vermeer (parece) teria utilizado.
Vai ver. È trabalho. Operacional, como diria o outro. Aqui, como aí, penso, não podemos nos dar aos luxos de idealizações em estados entretidos. Hoje seco um cálice de vinho ouvindo a euforia sair do som.



sexta-feira, novembro 7

Superstellaburst. Não devia fazer isso, mas se aparentemente dá certo, dever ou não, não está em questão. Superstellaburst, super....
Ele só fala em si e é insensato total. Um chato para muitos. Humano para mim.
How to sing. Quem falou que gostamos das pessoas que nos ouvem, principalmente aquelas que permitem que falemos só de nós e que são condescendentes com
todos nossos absurdos?
Outro escrito, ao lado do que a Consu postou: heterosexual rubbish Os melhores graffitis ainda são os stencils (talvez pelo simples fato dos autores não desenharem por várias razões, da técnica ao tempo) e as frases em cartazes publicitários. Esses dão prazer renovado. Como uma Land Rover e ao lado o anunciante coloca “altamente desenvolvida”, e o cidadão vai lá e põe em baixo “para matar”. Simples. Você olha para a frente do carro com outros olhos, rindo da onipotência e da pequenez. Pequenas coisas.
RESONANCE FM. EUFONIA! EUFONIA!

Estou no meio de uma semana muito estranha. Segunda eu fiz dois desenhos que gostei (coisa raríssima) e à noite editamos um material de uma ano atrás. Um dia muito melancólico que eu e o Barberá decidimos fazer um video para superar o dia muito melancólico. Então fomos para um parque vazio, um campo aberto. Simulei um gesto algo entre nazista, torcedor de futebol, votação, evangélico, vários, numa coisa meio patética. Havia um palco multicolorido abandonado, muito interessante, e em frente uma quadra de basquete onde simulamos um jogo Antonioni de Blow up. Acrescentamos um Cartola cantando Autonomia e alteramos uns trechos das música e isso foi o melhor, o acaso dessas mutações, como o acaso de encontrar lugares esteticamente interessantes em vazios urbanos. Chamei-o de Revolt.
Quarta fui em uma work experience para trabalhar na National Gallery. Três horas para ver as galerias e a parte destinada aos warders (os vigias, como quiser). Vi até a expo do Bill Viola, passei correndo pelas imagens em super slow que acabam parecendo pinturas mesmo. Gosto do público de lá. Dá de tudo, até homeless matando tempo.
Não dá certo. Talvez não é para dar certo. A liberdade é outro clichê artístico. O certo cria padronagens que depois esnobamos. Cuspiremos e amaremos nossos achados por conveniência.



domingo, novembro 2

Descobriram o meu blog favorito: microfone.blogspot.com.
No mínimo.
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Que fome zero. Quem se importa mesmo? Estamos muito acostumados com injustiça.
Em Londres, em Porto Alegre.
Eu vi o Concorde em seu último vôo, passando bem perto do palácio. A Consu é clara: mais um símbolo de luxo desnecessário.
Breguice da ostentação, da corrupção que sustenta essa aparência de felicidade. Alienados venceremos.
Ele me falou que não está feliz. Talvez faça tempo. Diz que envelheceu, que lhe faltou personalidade.
O mundo é um moinho. O Cartola. Em cada esquina cai um pouco a vida. Pode reaparecer em outra, mas tritura os sonhos, mesquinhos ou não.
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Fogos queimam no céu de Londres. Depois de uma noite de fogos até sua brevidade fica longa e entediante. Barulhinho, barulhinho.
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Muito engraçado ouvir transmissão de futebol, em rádio, pela web. A mesma coisa de sempre, a simulação do entusiasmo, euforia. “Vinhos Country Wine: delicioso”, ou coisa parecida. Polêmicas bobas, o populismo da “voz do povo”, uma simplicidade oportunista. E neste caso a raiva, a cobrança aos “dirigentes”, os atletas, o “ex-jogador”, os fracassos, a frustração. A piada do jogo foi o banco de reservas, aquecendo quando o time já havia feito todas as substituições. “Estão começando a treinar”. Ouvir o jogo pela web parece entrar no passado. Se o Grêmio (time de futebol porto-alegrense) não cair, sobrará o vazio.
Senise tem uma pintura que é um campinho de várzea, sombrio e desolado.
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Havia um cozinheiro tocando o piano intocável ao lado da cantina no palácio. Bonito, com dedos gordos e calça azul xadrez. E la nave va.



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