a relatividade das pequenas

sexta-feira, agosto 22

O que passou pela cabeça passou. Passarada.
Apliquei para a Tate pela 5 vez. Art Handler. Mãos de tesoura. Abrir bisnaga de tinta com luvas de boxe. Pintar com os pés. Abrir a janela e deixar o mundo entrar. Aceitar o mundo. Manusear com cuidado. Manter fora do alcance de crianças. Ler as instruções. Rir na hora errada. Carregar Bacons com um curador apavorado do lado e você pensando naquela Stella 3 da tarde. Pé de cabra. Furadeira. Martelo. Fita. Corda. Papel de embrulho, papel desenhado, gravura, papel burocrático, papelão. Dê-me um trabalho que depois eu explico.

Fugaz. Fugaz. Fugaz. Fugaz. Mais um. Fugaz. Ad infinitum. Fugaz. Pulando 7 ondinhas. Fugaz, fugaz.


Claro! Agora tudo faz sentido. Obrigado. Eu sabia que de alguma forma eu entenderia. Agora preciso tomar meu banho.


domingo, agosto 17

Tela branca maior que a mesa. O Mautner dizia que gostava das coisas sem querer prendê-las e que gostava de ficar namorando, se beijando e olhando para as estrelas. Abro coisas como meus livros de rascunhos definitivos, para não dizer processo, porque esse negócio de processo é longo, mas o fogo o consome por combustão expontânea. Livre para ser metódico depois do instinto. Livre para não ser escravo do conceito, para não temer a história e não advogar a crítica. Para ser senhor do menino e não menino do senhor. Inadvertidamente. Os trabalhos abrem-se pelo chão e o resultado é quase uma exposição coletiva de uma pessoa só. Por que não são conjunto, mas obra de uma má administração de referências, ou programa de intenções mal representado. E se fosse isso então?

Ser expontâneo para seu humilde e aprender com o mundo, que é vivo e autoral. Para aprender que o caos é o encontro das pontas. Que o acidente vai mostrar outras coisas.

Fugir da moral, da ética que vem com o discurso, porque os atos já são políticos.
Nem enigma, charada, jogo, truque enquanto desvio.

O mundo está dado. O engraçado é que até a liberdade é dogma.

Um argumento contra outro, infinitamente.

)(

Não consigo parar de mexer na ponta dos meus dedos. Ela diz pinta, escreve, toca, ocupa eles. Salve Hermes Trismegisto, que tem as três tábuas da filosofia universal.
Pronto, por um tempo não mexi.

()

To be famous is so nice. Suck my dick. Kiss my ass.
Sniffing in the VIP area, we talk about Frank Sinatra.
You know Frank Sinatra? He is dead.
(Miss Kittin)




terça-feira, agosto 12

Ciclismo

Cíclico. Parte de um deleite intelectual e/ou estético. Passeia pelos corredores da mente até onde a luz não vai. Fica lá na sala com obras nas paredes, dando voltas no banco para não perder a referência de espaço. Não há como ver. Volta depois de um tempo incerto e procura por você, que também deu voltas, mas agora não é mais o mesmo. É cíclico. Parte de um

()

Calor mesmo. Como na América Latina. Quase nada que é dourado é ouro. Não gosto da cor, e além do mais é mais símbolo que cor. Onde trabalho há muito ouro. Ofusca as cores mais sutis. Nada lá é sutil. É uma grande afirmação. Deve-se agir com firmeza, segurança, vigilância. Quando está muito cheio é preciso ser maestro das massas. Orientar e mandar nas pessoas. Pessoas do mundo inteiro. Você usa línguas, gestos, sorrisos com olhar sério. É maluco isso: quer dizer que você tem ótimo senso de humor que tb diz “Ok, ok, vai lá, só não fode comigo”. É engraçado como podemos vestir essa carapuça de forte e determinado, elevar a voz e estar cheio da razão porque NOSSO trabalho precisa ser feito. Por que estou viajando nisso? Eu estava falando de cores.

()

Estou lendo No Logo, de Naomi Klein. Não devia, Londres é muito capitalista, eu trabalho no centro, moro num bairro “pobre”. O livro é sobre corporações (é bem Fórum Social mesmo) e exploração das marcas como culto e das pessoas como galinhas. É como ler ficção científica, livros de terror, calamidade em escala global, Arca de Noé, epidemias, “Extermínio”, ódio, tristeza, manipulação, enfim, e algum senso de humor. A segunda parte é sobre culture jamming, que é uma resposta criativa e uma atitude política em relação à esse mundo do consumo e dessas grandes marcas que escondem exploração de mão de obra e o sono dos consumidores, distúrbios ecológicos e mentais e um controle remoto na inteligência humana. Não devia estar lendo porque leio no ônibus e uso como ilustração as milhares de lojas, cartazes, MacDonalds, IBMs, Starbucks, da vida e ainda trabalho no palácio de uma monarquia. Chego em casa e tenho que pular o lixo e caixinhas da KFCs e McDonalds (todos em volta de casa) que esses porcos jogam no chão. Não devia estar lendo porque trabalhei 6 meses em um Costa Coffee, que é uma rede com 500 lojas em UK e paga mal como toda rede de fast food no mundo, e explora as pessoas como ninguém e empurra para todo mundo que é legal, é cool, os clientes são legais, os funcionários são felizes (acreditem, é de chorar no fim do dia, esfregando o chão). O que você ganha por hora dá para comprar dois cafés. As pessoas fazem fila. Trabalhei tb duas horas em um lugar que parecia uma fábrica. Tínhamos que pendurar roupas em araras e nem sabiam direito para quem trabalhavam. Era terceirizado. Só negros e indianos. A autora fala de fábricas em Singapura, China, Brasil (General Motors) onde grandes empresas tem isenção fiscal, e as cidades que as recebem são escravas dessa idéia de gerar emprego, mas não tem dinheiro para melhorar o transporte, a moradia. Emprego, o grande desespero! Pega-se a primeira coisa que aparece. Daí você olha Coca-cola e pensa, bem, é uma marca de sucesso, todo mundo gosta, é isso aí. O que a marca faz é desvincular-se da produção. Então se houver exploração do trabalho humano, não é culpa do Nike no pé ou do anúncio da Gap na Dazed and Confuzed, mas de algum indiano que contrata indianos na índia para trabalhar para a Microsoft.
Pelo menos foi isso que entendi.
Eu escolhi vir para o primeiro mundo e ser classe baixa. A maioria da humanidade não tem escolha, claro. Mas tudo o que existe é responsabilidade nossa. Ninguém é essencialmente vítima.
Toneladas de sanduíches são jogados fora de lojas como Costa porque vencerão no dia seguinte. Os funcionários, quando podem, levam para casa. Quando não, pegam do lixo. Eu fiz isso. Sem maiores dramas, diga-se de passagem.
Estávamos em Paris e ligamos a TV no quarto. Começou a tocar O Guarani e então lá estava o curta Ilha das Flores (o título em francês fica mais irônico ainda). O curta mais óbvio e envolvente possível. Lembro de ter visto a primeira vez no colégio. Era um programa de TV sobre globalização.
Ganho um pouco mais hoje, mas mais do que nunca a idéia de “marca”, de corporação está presente. A monarquia é poder idealizado ao extremo. È idéia pura, abstração. E por trás da abstração milhões em obras de arte e ouro, palácios, lojas para turistas.
Em Londres coexistem todos esses mundos. É o lugar da moda, do dinheiro, das redes, da monarquia, da arte, dos imigrantes, da exploração, do lixo e do ouro. O mundo vê essas cidades como uma grande marca e onde tudo acontece. Lá estão as verdadeiras coisas, o que o mundo globalizado almeja e consome pelas bordas. Lá você pode experimentar um pouco do mundo livre e ideal, limpo, cool, bonito, com a droga certa, a música mais maluca, a biblioteca mais completa, as ruas mais cosmopolitas (que ironia isso) com coisas admiráveis acontecendo a cada instante.
Então as pessoas chegam em navios e a maioria é “desqualificada” e vai parar primeiro num sub emprego (com uma fachada super cool) depois no home office, que é quem dá os vistos. Eu fui num dos seus escritórios com uma amiga. É um ginásio com milhares de pessoas do mundo inteiro com senhas na mão e uma angústia para ouvir um veredicto, um carimbo, um papel que diz: ok, você pode começar a sonhar legalmente, por seis meses.
Tudo isso é tão óbvio. O mundo imaginário, como passar pela infância e chegar na adolescência. Então o mundo. Porém, nesse mundo talvez eu exista mais. Porque não faz sentido, ou porque os sentidos foram desafiados.






terça-feira, agosto 5

A INDÚSTRIA DO MITO

Saímos para caminhar na nossa suja e colorida rua quando cruzamos com Gilbert e George.
(artistas ingleses que tornaram-se famosos quando chamaram a si próprios de “esculturas vivas”, pelos fins dos 60. Suas personalidades recriadas são, portanto objeto de suas obras. Eles pintavam o rosto de dourado e cantavam em “Singing Sculpture”, ou retratavam-se durante um suave bebericar de vinho num pub em algum lugar. Desenham e fotografam muito bem, mas o que mais chama a atenção são suas figuras austeras e corrompidas. Vestem-se sempre iguais, terno e gravata, moram juntos e acho, amam-se.)
A Consu havia lido que moravam nas redondezas e comiam sempre num turco perto de casa. E fomos atrás. (ela sempre quis seguir alguém, mas tinha que ser Gilbert e George?). E de fato eles entraram num turco e lá ficaram. “Eating Scupture”, then.

()

PEDRA, TESOURA, PAPEL

Separação. Os limites restringem-se à legitimação e reconhecimento, atuando na configuração de critérios de seleção e, por sua vez, no limite entre o coletivo e o individual, entre projeto e conseqüência através do tripé exposição-curadoria-instituição do referido, ou seja, 29,7cm por 21cm. Porto e reencontro.

()

Hoje mais um dia de folga.
Sempre espero tanto por isso e tudo o que faço é controlar um silêncio que beira o choro.
Eu quero chorar e você vai pensar que estou infeliz em Londres.
Você não vai pensar mais nada agora.
Feche os olhos. Você vai fazer tudo o que eu mandar.
Bem, isso não existe.
Eu vou chorar e você vai pensar que é bom as pessoas chegarem no limite existencial. Que é bom alguém pensar o porque. Que não devemos entregar-nos à total alienação do próximo. Que o entretenimento não é a razão de ser de uma pessoa. Nem o trabalho. Não sobra nada.
Eu não existo. Tudo o que existe são relações, fatos, acasos.
Discursos existem, mas dentro da realidade de suas relações.
Fome e sede e tesão existem.
O tédio existe.
Daí corremos para o desvio.
Eu não quero só ser feliz.
Amanhã tb estou de folga.

()

Arte é hipnose (e o show do atirador de facas).

()
Alguém da platéia como voluntário para nosso show de hipnose?
A senhora na primeira fileira? Muito bem, PALMAS PARA NOSSA CONVIDADA!

Qual o seu nome?
(...)
E diga-me, o que você faz?
(...)
Palmas para ela! Diga-me, você já foi hipnotizada?
(...)
Rá, rá, rá, excelente, excelente. Pois bem, vamos começar o nosso espetáculo.

()

Outros batem palmas e ele começa cantando “Eu sei que vou te amar” e ele não gosta de barulho na platéia. Revelou-se a sua enorme ingratidão. E no peito dos desafinados só bate coração.



LINKS
Consu
Rafa
Fer
Jorge
ARCHIVES
agosto 2002
setembro 2002
outubro 2002
novembro 2002
dezembro 2002
janeiro 2003
fevereiro 2003
março 2003
abril 2003
maio 2003
julho 2003
agosto 2003
setembro 2003
outubro 2003
novembro 2003
dezembro 2003
fevereiro 2004
março 2004
abril 2004
junho 2004
julho 2004
setembro 2004
outubro 2004
dezembro 2004
abril 2005
maio 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
junho 2006
agosto 2006
dezembro 2006
abril 2007
junho 2007
julho 2007
setembro 2007

This page is powered by Blogger. Isn't yours?