a relatividade das pequenas

terça-feira, julho 29

Niquerido, desculpe o silêncio. E silêncio quando se espera um comentário sobre algo que fizemos é o pior. A tela é muito boa mesmo. Tem a ver com o projeto? Qual o tamanho? Er... posso pegar? O rafa pegaria, se me deres o teu endereço e telefone. Se for algo do tipo "só quando eu pessoalmente der as caras para aquele chimarrão", tudo bem, assim ficamos entendidos. Mas não quero que tu te apegues ao quadro, senão ele não vai querer vir comigo. Gostei muito, é pintura de alto nível. Obrigado.
Tenho pensado demais em pintura e não pinto nada há quase um ano. Deprimente e opressor. É mais fácil o quase impossível do que fazer uma simples coisa que me propus como carreira há uns anos. É a benevolente, condescendente e indulgente alteridade, que nos faz passar por tudo, menos por um foco.
Quanto à sua vinda, vem quando der. O lugar certo é na mente mesmo. Grande abraço.

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CUTTINGS

To see the art without the legend is particularly difficult
To see the art without the is particularly difficult
To see the art without particularly difficult
To see is particularly difficult
To see is difficult
To see difficult
To see
To difficult

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The day my life turned around
She wonders why so many young people find it such a yawn

(a cutting from a Guardian article about…art)

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Meanings that can’t be straight away have been banished by artists

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An activity needs to remain foreign – to be an incomprehensible language – in order to retain its cultural value and criticality.

(This was an article about…paintings)

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Work destroyed on artist’s instruction (About Eva…Hesse)

Auto Stop System. (Written in my sound system)

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O mistério da grande alegria é selvagem. (dada poesia Dada nos imãs da geladeira)



segunda-feira, julho 21

Limpador de vidros para a vista. Os olhos ardendo. Vendo.
Parte. Parto.
Preencher buracos, espaços.
Comer carne. Babar.
Redistribuir barulho.
Humor não tem graça.
Criar do nada. Nada não existe. As coisas ganham dimensões diferentes, mas já existiam em algum lugar.
No ato, no resto.
Aproveite esta delícia.

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Verdade não eloquente. Minha representação está cansada.

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Trilha para eventos da vida. Em uma performance com som e projeção de slides tocamos num bar. Ou, o grupo The Collective (eu guitarra, Anthony poemas e Sarah, nossa tecladista sueca que ensaiou uma vez antes da aparição) tocou em um ambiente com slides. Outra: na exposição de fotografias de Nicole Heiniger, o grupo The Collective tocou suas músicas de acordo com as imagens projetadas em slide. Algo do gênero. Fotos e música sobre parede.
Tínhamos meia hora e uma salinha com sofás livros e muitos copos. Ficou muito bom. Fomos bravos. Estou cansado e feliz e não estou pronto para outra. Foi muita informação ao mesmo tempo, envolvido nas fotos, na música, na via das coisas que tem muito para dar errado e acontecem num suspiro de realização. Épicos intimistas.

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O pelo do cachorro

Expressão inglesa que significa beber para curar a ressaca, porque antigamente achavam que pelo de cachorro curava raiva.
Salões de arte são lindos. São tb uma forma de afirmar os dogmas e padrões de um determinado grupo, incorporando o semelhante, excluindo uma maioria, estipulando a tendência. E são jovens (bem, até os 30?), significando o radical, o inocente, o promissor, como o futuro, com potencial para mudar e ser melhor que o presente. O belo (e o bom, o importante) é o que não foi ferido, segundo Richter. Então salões assim chamam-se “A novíssima geração de desenho e pintura” e nadam num rio de corrente programada com braços que às vezes se perdem para seu próprio bem. Bienais são em parte assim e, ou bem ou mal mostram o estado das coisas, pelo conceito de um curador, até onde sua visão alcança. Só que você não precisa ser menor de idade em bienais. No Instituto de Artes gostava de ver aqueles livros velhos intitulados “Arte Contemporânea”, de 1959, 62, e os seus cortes culturais. Mas os meios precisam circular a produção, sacudir, acontecer. Mesmo que por ações paralelas onde o relance de um processo é exposto e analisado, comentado ou apenas comemorado. Artistas comem, e bastante.




sexta-feira, julho 4

O som morreu, não toca cd. Mau humor instantâneo. A vida é sacrifício e prazer. O resto é discurso.
JESUS! MARIA! JOSÉ!
Ó Deus, que na vossa infinita bondade e misericórdia inspirastes ao vosso humilde servo João Baptista tão ardente desejo de perfeição e o cumulastes de tantos e tão extraordinários favores,....

Trabalho vai bem. Não toque, por favor. Desligue o celular. Tem algum objeto cortante? Os cavalos puxam as carruagens. Leonardo escrevia em italiano e ao contrário. Charles I foi decaptado e sua cabeça costurada de volta. Não, eu nunca vi a rainha. Brasil, minha senhora, português.
Superprofissional, disposto e simpático. Sempre.

Às vezes chego de ressaca e sinto-me desligado do ritmo do mundo. Daí a atenção tem que ser maior. Não sei como.

De resto a vida é sacrifício e prazer, o discurso encaixa-se nas frestas que entreolhamos.

Artistas são os outros.

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Outra senhora entrou na galeria onde eu estava guardando Leonardos e pergunta-me se tenho desenhado bastante. Era minha avó de novo.
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quinta-feira, julho 3

Casa nova. Fomos convidados a sair da última. Nesta, só há nós mesmos para incomodar. Gostamos muito da privacidade, da nossa calmaria e do nosso furacão.
Acabo de sentir o chão tremer.

Moramos em um estudio ao leste de Londres. O melhor lugar do mundo possível. Não tenho mais aquela casinha no fundo da casa. Agora o trabalho será ainda mais compacto, modular, minimal, caneta, anotações. Esboços para pinturas murais em capelas efêmeras, em santuários (santuary = refúgio em inglês), projetos, andamentos, problemas, não soluções.

É preciso estar atento e forte. Faz um ano e meio que mais do que .......................nunca.



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Os cariocas que conheço são saudosistas ao extremo da sua boa vontade. Um deles me empurra o Ela é carioca do Ruy Castro que folheio com complacência até encontrar Oi-tee-see-kha. Diz que ele foi encontrado vivo depois de quatro dias agonizando no chão da sala de sua casa após um derrame. Um “happening”, segundo o autor do verbete (Hélio Oiticica; Helô Pinheiro...). Bem que ele buscou fazer de sua arte algo menos visual e mais sensorial, musical. Diz que ele via e ouvia as pessoas tocando a campainha, colocando bilhetes sob a porta, mas que não podia falar.

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Talvez tenha começado quando nos mudamos para este estúdio em Hackney. Ou quando fomos na Tate e vimos a instalação do Bill Viola, onde uma pessoa interrompia a paz das águas em um mergulho, feito renascimento, morte, insistência, desistência. Vimos tb a Paul McCarthy esmurrando a própria cara, masturbando-se com ketchup, sendo um boneco teimoso na vida. E muito pode ter sido quando finalmente deparamo-nos com as quatro estações do Cy Twombly, que foram pinturas fortes, muito fortes, e eu quis fazê-las, e atirar toda a instabilidade e canalizar minhas vontades e reações.

Quero encontrar uma representação visual para o que estou sentindo. Posso ver um esboço em tela. Cores e formas esmaecidas por camadas de tinta. Coisa que já fiz, outros já fizeram, mas que vale. Significa para mim um encontro de águas da minha confusão com o mundo. Minha raiva, meu amor, minha sincera vontade de fazer certas coisas. Quero que quando alguém as veja, sinta um cansaço do mundo e uma vontade de fazer mais. O motor cego ou invisível. As idades, as vontades, por certo as frustrações e a teimosia. A arte vence o duelo porque nós acabamos e ela mantêm-se indecifrável. Propomos novos enigmas, e ela se diverte.

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Fizemos a tal da abertura da exposição dos meus desenhos no Foundry. Pegamos um canto do mundo, fiz minha parte, alguns vieram, bebemos sensivelmente, porque assim celebramos os momentos inesquecíveis (com um grande provedor de amnésia). Estava bem. Dormi como um anjo cujo diabo saiu do corpo. Primeiro dia de férias: Paris existe.

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Estávamos sem Internet em casa. O mundo sem TV, jornal diário e a Rede ganha dimensões possivelmente mais íntimas. Grande alienação diriam. Li sobre o Butão, último país do mundo a ligar a TV. 46 canais via satélite. Pensaram de forma budista que as pessoas devem buscar a felicidade, e a TV seria mais uma parada no caminho.
A corrupção, furtos e violência aumentaram. Mas a TV não mata uma mosca. Ela não pode nada.

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