a relatividade das pequenas

quarta-feira, dezembro 25

Mais ou menos como eu esperava, a retrospectiva da Eva Hesse na Tate mexeu certamente comigo, a ponto de deixar-me estranhamente contente. Mesmo com todas as estranhezas da arte e da vida, e ainda exaltando esse lado desvio das coisas, saio com um bom desespero e algumas urgências de lá, que vão mover-me e ainda, irão manter-me em caminhos que já tracei, em obsessões de linha, mancha e idéia que resumi em muitos trabalhos e livros de rascunho e que perfazem a minha história neste ano. O desenho certamente, o desenho que ela fazia guiando-a para o tridimencional, e a coerência de um raciocínio abstrato que inclui, (in)definitivamente, a (in)existência. Mais a delicadeza do trabalho e dela mesma, morta prematuramente. Como Ives Klein.

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Também o desenho como proposição para instalações e esculturas e vídeos que não existem e possivelmente nem existirão. Preciso fazer de uma vez, com as fotos tb.




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Uma coisa que surgiu no trem é a poesia, como a vontade de fazê-la de novo e com um fio único de condução e indução. Mas quero definitivamente trazê-la para o contexto do desenho, da arte, da construção de uma coerência interna. Mesmo que mentira. Não quero (ainda que possa acabar servindo) que a mentira seja mais uma forma de esconder-me, mas mais como um programa, um conceito. Um conceito que tem esse preço da ironia e da desconfiança, do isolamento e enfim, do embuste dramático que a arte nos ensinou do alto do seu Olimpo, do seu humor e da sua dor.



segunda-feira, dezembro 23

White balance. Balanço de cor. Bate o branco e tem a referência para as outras. E se mata o branco?
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Poder pode. Essa frase é.

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Ed is.

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Estava então ampliando umas fotos com meu amigo e sempre consigo alguém para brincar de fazer algo ritualístico dentro da rotina e isso pode me deixar um pouco preocupado com o que podem pensar as pessoas que fazem algo determinado todos os dias incluindo seus percalços fora da rotina tb. E o fato de eu nada saber de técnica fotográfica traz à tona outra de minhas culpas que é a falta absoluta de qualquer conhecimento técnico sobre qualquer assunto (mas enfim, não?). Enfim, duas preocupações que para alguém perto dos trinta como eu já estão fora de moda. Ou é ou não é. E ainda, vislumbro acabar como alguém que realmente aprende a fazer alguma coisa lá pelos 50. Penso seriamente no clarinete, ou na flauta transversal ou voltar “despreoculpadamente” para a filosofia ou têmpera ovo.

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Falando em técnica, fui bem curioso ver uma expo. na National Gallery de pinturas renascentistas com suas respectivas fotos em infravermelho para comparação. “Underpaintings”. É possível ver o traço desenhado ou pintado mesmo com coisas do tipo tinta à base de nozes, ou os furos dos “cartoons’ que usavam para a transferência do desenho para a pintura. Rafael, Brueguel. Esse me pareceu mais interessante ainda pela qualidade do desenho. Algumas curiosidades sem graça são “vendidas” tb nessa exposição, como coisas acrescentadas depois, ou modificadas, como “este aquele cavalo branco não estava na concepção original”, ou “essa pintura foi executada por dois artistas, um fez a paisagem e o outro fez as figuras”, mais ou menos assim. Correções. Enfim. Engraçado ir lá para ver mais as reproduções fotográficas do que os quadros em si.

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Sleep in heavenly peace.

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Papel. Papel. Faz muito frio na casinha. A Consu quer que eu compre um aquecedor. Mas uma vez que já ligo o som e dois pontos de luz, mais um e parecerei o pé de maconha no canto de uma casa que vimos esses dias, toda isolada e iluminada para vingar. Tomates com fones, ouvindo Wagner para vencer.
Mas estava então na casinha e comecei a reproduzir em folhas avulsas algumas idéias que gostei dos livros de “rascunho”. Não sei se já falei que li serem esses livros mais interessantes que as obras finais. E diria que são diferentes (óbvio, coerente, moderado, pontual, porém hesitante, o opinador que diz não acreditar muito em opiniões). Mas não adianta, é só tirá-los daqueles simpáticos livros e parece que numa folha existe sempre alguém olhando o resultado no seu lado, comentando, opinando! Então comecei a brigar com o acabamento ali mesmo, tentando enfiar pinceladas no seu olho.

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terça-feira, dezembro 10

Por menos que o gosto diga alguma coisa, nada vai transcender a sua esfera. O começo e o fim de uma mostra tem essa marca. Claro, tem todo o resto, mas de quantos restos é feita a vida? Tenho pau e não quero fazer uma canoa. Li um grafiteiro que diz que um pedaço de madeira esculpida não vai ao fogo. Mas lembro de um conto do Caio Fernando Abreu em que as pessoas no frio queimaram tudo que viam pela frente, incluindo a consciência (ou ela foi a primeira?).
Eu escrevi uma carta para os suicidas e não salvei. No entanto ela apareceu. Foi a resposta? Not likely.

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tenho exposições importantes para ver. Por enquanto estou fazendo cera. Elas são boas mesmo, e dependendo do nível de abertura de meus poros, pode ser perigoso. Veremos em que chão cairei, em que braços acordarei e qual será minha primeira pergunta banal.

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Projeto: desenho de memória de pessoas que conheço.
“Uma foto do seu rosto ganha o título de “os pensamentos de fulano””
Fulano pensado.

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Talvez se eu meditasse eu conseguiria ver a pintura como uma dissolução do ego. Mas não. Talvez eu simplesmente não goste mais de arte. Ou nunca gostei. Só estava procurando, caminhando para ver o que há no outro lado de uma curva, que na verdade é um círculo.
Ou uma lebre falsa para cães de corrida.
Ou um placebo.
Ou uma boneca erótica.
Ou uma pílula de ecstasy
Ou a promessa de amor/vida eternos.
Ou um pacto de sangue muito antigo.
Ou a subjetividade contra a objetividade.
Ou fogos artificiais.
Ou a sua sombra caminhando para ver o que há do outro lado.

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Mas isso seria platonismo. E eu não.
Talvez se eu pintasse eu conseguiria ver o ego como a dissolução da meditação.

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Preciso contar, para quem não sabe, a história das pinturas do Rothko que estão na Tate.
Eu sabia que ele tinha feito-as para um restaurante mas depois desistiu e doou para a Tate. Mas isso é pouco. Li um artigo do Guardian, de Jonathan Jones sobre o acontecido e começa muito bem: “Mark Rothko foi encontrado em 25 de fev. de 1970 morto deitado sobre um mar vinho escuro de seu próprio sangue. Havia cortado profundamente seus braços e a piscina emanando de si sobre o chão do seu estúdio media 8ft x 6 ft. Isto é, era a escala de suas pinturas. Era, utilizando um jargão da crítica de arte da época, um campo de cor.”
Conta que Rothko, então um pintor ainda mortal, recebeu a encomenda muito bem paga para preencher de telas um novo e poderoso restaurante chama Four Seasons em um novo e poderoso prédio na então Nova Iorque no auge do seu poder cultural, em 58. Ele aceitou. No entanto, depois de uma viajem à Florença e Pompéia ele devolveu o dinheiro e pegou os quadros. Associa-se sua pintura a uma espiritualidade forte (que tb dizem não ser nada disso) e que Rothko era politizado e engajado, tendo a vida marcada por ser imigrante Russo, Judeu e pobre. Depois de pintar os quadros ele embarcou num transatlântico e confidenciou para um jornalista depois de uns drinks que queria “arruinar o apetite de cada filho da puta que comer naquele lugar”. Nada sutil para seu temperamento. Mas o Jones encerra o artigo com a idéia de que Rothko viu que nenhum daqueles ricos daria a mínima para a pressão psicológica que as telas exerceriam sobre seus cardápios. E que seria mesmo uma decoração de luxo, que a arte não muda nada. Assim guardaria algo a consciência?
Os quadros chegaram em Londres no dia de sua morte. Dez anos depois de ter devolvido o dinheiro, o pintor doou à Tate nove telas, que lá estão como sangue congelado, naquela sala escura e sombria.

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E agora para algo completamente...
Em uma das fotos o artista está enrolado em um pano vermelho. Noutra seus gestos explicam o caminho das perdas. Noutra sua boca fala da beleza estética de uma equação matemática. Em uma das fotos está misturando tinta, e na seguinte imprimindo um livro. Fazendo de livros, sendo que agora parece estar comendo um livro ou sendo engolindo ou imprimindo sua face. “A verdade da sua retina”. Documentos e registros de performances, sim senhor.



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