a relatividade das pequenas

quinta-feira, setembro 26

Reconhecer os limites. Li outro dia um ex frequentador do AA falando dos agentes para permanecer sóbrio. Desde remédio para dormir, meditação e até natação e hipnose. Ele virou uma pessoa dedicada a isso. Dedicado a uma coisa que não devia mais pensar.
Mas estava falando sobre isso porque ele dá uma oração do São Chico de Assis que fala em reconhecer os limites.
Às vezes nos acho tão fortes e outras tão fracos.

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Os médicos prescrevem tanta coisa. Paraísos instantâneos. Sedativos. Toda pessoa poderia tomar anti-depressivo. Remédio para dormir, para acordar, para ficar feliz e calmo. Para ter tesão. É um buffet, citando novamente o cara do AA.

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Tenho dois ácidos no meu estojo há uns 5 meses, presente que não tomei. Muita insegurança e festas com outro ritmo tb. Tenho tb há mais de um ano uma cartela de valium que nunca tomei, presente de uma amiga à quem o médico justificava o diploma oferecendo nada senão a química, como alías a maioria. Minha mãe tomou antidepressivo, a mulher do meu pai tb. Meu irmão e seus amigos adoram a maconha. Meu pai e eu gostamos de álcool. Bastante. Tenho tentado parar de beber. Tenho uns anti-ácidos à mão porque tomo muito café.
Eu pintaria à isso. Damien Hirst não só brindou a isso como abriu um restaurante chamado Pharmacy e muitas de suas obras são farmacêuticas. Ele já prescreveu a si muito remédio e em uma propaganda da Absolut diz que não confia em quem não bebe.

A arte pode substituir uma vontade tão real? Quando perde-se em muitos conceitos e análises não. Quando ela em si é desafiadora da razão e dos sentidos, como uma grande idéia ou uma pintura muito boa (cada um com os seus é claro), talvez.

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máquina de hipnotizar, de nadar,

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Não se pode ter tudo. Por tudo a perder. Tudo ou nada. É agora ou nunca. Faca de dois gumes. Frases.

Existe uma brecha que pode subverter nossas escolhas. Um limbo das vontades onde tudo pode acontecer e tudo ser perdido. Mas são vários, curtos, instantâneos. Pequenos poemas que qualquer mente faz e perde. Poemas que as coisas constróem, que nossa cabeça associa e subtrai outras ligações que as codificam.

Isso é linguagem, eu sei. Eu não sei pintar isso. Ou saberia se soubesse ler esse instante.
Quem sabe isso que acontece não são as coisas invertendo nossa razão e nós somos objeto delas.

Estava lendo uma entrevista que colhi na intenet, um intertexto sem antes nem depois como muitas coisas que descobrimos lá e não sabemos nem como citar e que a biblioteconomia não ajuda. Até porque não é livro, mas é arquivo e tem autoria e proprietários, enfim... Mas era com o Eduardo Kac, e lá pelas tantas ele cita pesquisas de linguagem que fazia usando “tecnologias” como o fax com o Mário Ramiro. Então eu encontrei o Mário Ramiro no passado na Internet, que não tem tempo.

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quarta-feira, setembro 25

A Mônica Zielinsky. Ela em si é uma beleza que eu fecho os olhos e penso no sorriso. Seu trabalho na Fundação Iberê (que a mãe mandou a foto do projeto como saiu na imprensa) é descomunal e isso não é política. Ela (teima) acredita no trabalho, em algo que se faz passo a passo. Pensar em equacionar a pintura do Iberê, principalmente no contexto cultural brasileiro e periférico como o Portoalegrense, é árduo. Por que?
Eu queria dizer tanta coisa para ela pessoalmente. Ela me disse que gostaria de saber das coisas que eu viria a fazer e eu recebi isso com uma força maior que a respeitável mas até certo ponto limitada relação professor-aluno. Minha mãe anotou as coisas que ela dizia na minha banca de graduação, enquanto eu mexia nos dedos. Foi um momento exo-uterino que carregarei sempre na retina.

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Freud é o Iberê daqui. Como um pintor institucional mas rebelde em si. Bacon era um rebelde na forma. Eu vi mais do Auerbach e está mais próximo do Iberê: camadas de óleo, pincelada sobre pincelada, violência, compenetração e mergulho.

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luz. Não é tudo, mas quase. A Não é o que é visto que importa somente. Espelho cego do Cildo. Uma tela com uma descrição da própria imagem. A Origem do Mundo é uma vagina em primeiro plano em uma bela pintura do século 19.

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I fly so high and fall so low. (Moby)

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Estou pintando a primeira tela desde julho de 2001.

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Acordar para dormir. Acordar do sono dogmático. Fazer o que se conhece.

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A escassez de tocadores de tuba.

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O livro do tempo e das indefinições

Faz dias que estou pintando a tal primeira tela desde julho de 2001. E descontente com os resultados chego à algumas idéias, como: a sobreposição de camadas chegando à tentativa de sumir com as figuras é um reflexo da minha personalidade. Pois, acho que vou seguir com isso. Niilismo. Somos efêmeros.

Não estou conseguindo apagar a figura inicial, que não diz muito, mas é uma foto que a Consu tirou das meninas num momento bonito, então acho que isso diz mais para a vida do que qualquer coisa, por tratar de felicidade, e não sei atrás do que mais estamos.
Mas comecei outro quadro que é um caminho distinto, mais abstrato, que de cara ficou melhor aos olhos. De identificável apenas o que parecem ser pessoas gritando e que quero chamar de Paraísos Instantâneos- Coro Para o Sto Expedito. Fiz a partir de um desenho em folha avulsa, onde passo um pincel cheio de tinta a cada vez que quero usar a imagem, então é uma monotipia que lembra stencil. Mas cada vez que passo a tinta a imagem fica diferente pelo traço que imponho. Eu adoro desenhar e adoro manchar. É mais colorido e então parto para uma pesquisa de cores que tb é desafiador. Vou usar um livro para imprimir as manchas tb, então muitas etapas ficarão registradas. Será meu jogo com o rigor e com a auto-catalogação. Além do mais eu gosto muito de ficar olhando essas formas que os campos de cor produzem.
Mas de modo geral estou num limbo pantanal. Ao menos estou em algum lugar. Antes, só como trabalhador de restaurante eu era um vulto executando um serviço.

Eu não quero o caminho mais fácil, mas cheguei a um ponto perigoso da vida. Eu preciso agir por impulso seguindo a mínima brecha de claridade que eu descobrir. Eu preciso reconhecer meus limites e minhas fraquezas. E ser menos egoísta é tudo de mais importante.
A leveza tb vem com a seriedade no entanto.

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Mau com jogos. Maus jogos. Mau jogador. Por que fazemos isso, ou aquilo ?
O seu par ou o meu ímpar? Dentro fora, dentro fora. De onde você é? Carrego comigo o que na sua bagagem não está. Eu não trago a sua bagagem, sua estrela, seus pés nem suas mãos. Eu não carrego eles também.

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Dei um tempo nas duas telas que me olham inacabadas feito transformação genética mal sucedida. Volto para os papéis. E adoro. Penso que ao menos desenhos me fazem bem e me sinto mais livre. Estou registrando manchas e esboços num livro de capa dura, bonito, e faço manchas numa linguagem pop.
Outro dia caminhamos por nosso bairro e vimos muitos tipos diferentes: muitos judeus ortodoxos e suas tranças e chapéus gigantes, e um grupo deles lotando um minimercado. Então olhava-se de fora aquela estética de mercadinho e banalidades com uma invasão de homens de preto com chapéu gigante e suas crenças. Mais adiante em um pub a mulher cantava acompanhando a letra num video enquanto um cara a olhava. Outros viam futebol na tv, sem legendas. Então chega-se em Seven Sisters, onde a comunidade negra impera, desde yo até Islã.
Diante dos papéis tive vontade de registrá-los. E o faço aos poucos. Outra estética bem interessante no meu circuito são as lojas de artigos eróticos e inferninhos do Soho, bem como as lojas com pinturas bacanas na Regent st. No caminho para a estação passamos por uma galeria com telas grandes na parede, dois bares com telas legais e por esta loja com vitrines Pop. Estávamos conversando com um Ucraniano mas não conseguia fixar-me no assunto, só nas janelinhas para a dimensão das paredes com pinturas e atmosferas e fins distintos. Isso é foco ou desfoco?



quinta-feira, setembro 12

Estou sozinho. Silêncio e café. A pintura da vida, como o livro da vida. Desligar o mundo não é ignorá-lo, é buscar compreendê-lo. Como se isso não fosse nossa função do começo ao fim. Todas as nossas extensões são relativas às perguntas. Só temos perguntas. Paraísos Instantâneos é o que sentimos quando idealizamos nossas metas ou as atingimos, ou mesmo coisas que nos fazem bem. Já se disse que a vida é um tecido. Um tecido manchado. Richter disse que o belo é o que não foi ferido.

Um mosca entra no quarto e me ridiculariza. Eu a expulso da vida. Wittgenstein disse que filosofia consiste em mostrar à mosca a saída do vidro em que ela se meteu.

(())




quarta-feira, setembro 11


a identidade
e a falta de
são violências.
Porque facilmente lhe emprestam
Ou mesmo
você paga para ter.

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você via o exército no verde
nós vemos uma futura ausência
todos nós vemos sangue no vermelho

Não existe zero

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falamos em estranhamento, deslocamento, recodificação. Falamos em mutação, desdobramento. Acho que o curador de Kassel pegou isso tudo e colocou sob um vídeo sobre esquimós, outro sobre um naufrágio criminoso de imigrantes na costa italiana, outro sobre trens entre a Europa oriental e a ocidental, e cada sílaba dos arquivos do Altlas group. Enfim.

Você quer um contexto, lhe daremos vários, pintor.
Vá cuidar de suas tintas, de suas rupturas formais, de seu véu sobre véu, de sua eterna reafirmação, de sua embolia entre a figuração-abstração-pop-diagrama.
pintor. Vá a sua merda e aos seus diabos.

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Cabular todos os encontros. Não estar nos bancos de dados, senão onde diz “pintura”. Um item, um milhão de entradas. E morta. Não constar nos temas de bienais e exposições em geral. Na memória, na subjetividade, na arte de engajar-se em um rio, etc.

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pessoas com nuvens na cabeça. Com ovelhas, santos e naves espaciais. Com jacarés, cobras e sapatos. Com amantes e finados. Sem cabeça, felizes, sem dente e comendo. Sem perna e pulando. Perucas imensas. Pessoas com a cabeça enfiada no rio. Pessoas dentro de uma casca de banana.

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O díptico de novo.
De um lado o realismo, que pode ser chamado assim por se aproximar do que conhecemos da amálgama entre a verdade em si e as fotografias. Estamos falando de um quadro, retângulo, pintado. De outro manchas, que podem ser chamadas assim por não representar nada além da tinta em si.

()

“A couple is dancing; their image is revealed little by little, but tells nothing of their fate.” Sobre o cartaz do Boltansky que trouxemos de Kassel.


Ponto de ironia – ainda Boltanski. Aquele poster - que vem em forma de folder, onde dois folders formam a figura (porque deve-se usar ambos os lados) e cada folha é uma mancha irreconhecível - é divino.
Brincando de montá-lo errado, e realmente, se nada sabemos do destino do casal que dança, e parecem nossos pais em fotos amareladas, e em breve nós. Ao pegá-lo só um frame é possível ver, e não diz nada. Então, montando erradamente, como um jogo, e sou péssimo com jogos, as imagens são mais distorcidas ainda.

Queria ter agora uma caixa que estava “organizando” em casa com fotos de família, tentando usar não uma cronologia mas uma galeria de imagens. Gostaria de fazer isso com elas.
Esses dias recortei um rosto de uma revista. O parti ao meio e colei os lados invertidos, com uma distância ombro a ombro que então os fazem parecer duas pessoas posando. E a foto tb tinha essa aura de gaveta.
Então leio sobre Richter e tento apreender um pouco sobre seu uso de fotografias nas telas. Um misto de memória coletiva e pessoal, e ao mesmo tempo um não reconhecimento das imagens, a sua perdição. Barthes e a mentira. A pintura é mentira assumida desde o princípio (Hirst) e isso lhe garante liberdades. Richter e Boltansky falam de memória, e o poster do casal tem um ruído fantasmagórico e a própria imagem está distorcida, suja, como que captada de uma televisão mal sintonizada. Lembra sutilmente pinceladas. Luz, eletromagnetismo e tinta.

()

Eu nunca estive tão confuso, mas ao contrário de outras confusões e ruídos prévios, estou empolgado. Como meus dedos a cada referência que trago, que ao mesmo tempo me desanima porque não posso fazer o que os outros fazem, mesmo que acabe fazendo. Essa é a contradição. Mas as artes visuais e temporais trazem sua bibliografia implícita. Mesmo que muitas vezes seja intransponível.

()

Ciência. Consciência. Consistência.
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Viver 1 vez.




quarta-feira, setembro 4

O Juba projetava filmes na fachada do vizinho com seu projetor 16mm, na rua Santo Antônio. O filme não importava muito, penso. A ação sobre o suporte era mais interessante, pois, acho. Eu acho, não encontro.

Já em duas festas aqui vi slides projetados na parede. Em festas e carnavais nos damos ao luxo. O resto é rotina, e dentro da rotina e dentro do carnaval nos damos ao lixo também.

((())

Falar. Alguma coisa que sirva para o vazio não caber em si.
Música ambiente. Frisos de flores na parede. Oca é a cabeça. Telas na parede do restaurante italiano. Hoje, se chover, choveu. O ano está voando normalmente. Fotos, muitas fotos do natal de 95. Estamos todos bem.



(())

E não tenho assunto. O assunto não me tem Fala abstrata. As pessoas preferem falar a ouvir. Gostava daquela brincadeira onde cada falava uma frase sem conexão com o que o outro dizia. Mudava de assunto radicalmente: “eu acho que vai chover em três dias’, e a resposta: “ se eles não fossem tão gulosos”, “ claro que o cachorro morreu!”.

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No caminho para Kassel de Frankfurt parecia que só algumas famílias viviam. Do trem as estações pareciam mais e mais abandonadas, parando para ninguém entrar. Ficamos sozinhos com uma freira no vagão. Comecei a pensar que aquela Kassel era outra, que estávamos indo para uma cidade sem Documenta nenhuma.

Eu não sabia o que reclamar porque não esperava algo pronto. Aliás,


())))))


Ouço duas crianças chorando. Dura, dura. Então a porta de um veículo é fechada. Por fim e enfim, a música do carrinho de sorvetes perde-se no horizonte do ouvido.

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leio nalguma referência que a tenha (isso de não dar a referência é totalmente antiacadêmico) , de artistas como Tunga, para quem cada micro etapa do processo de feitura dos produtos artísticos é absoluto, portanto uma linha em grafite é uma escultura. Gosto disso. Se a imagem é o importante, não pensa-se no meio, penso. E não consigo parar de pensar no meio. Não que agora eu vá costurar o linho, mas penso com mais e mais intensidade na tinta, que é a culpada. A linha então é mancha.

()

Kassel é linda. Cidadezinha alemã que promove a Documenta desde 55. Fui com olhos vazados, por que se estava procurando, sabia que não era lá que encontraria pintura. E despojado do egoísmo, posso aprender com outros meios, a poética dos outros. E vi muita coisa política, muita coisa poética, muita coisa vazia querendo estar cheia. Era uma Documenta política, o curador era nigeriano, a Documenta do terceiro mundo. A cada sala um contexto histórico e social deveria ser apreendido, senão a passagem seria inútil. Acho que em uma semana era possível. Então seleciona-se pois só teríamos dois. Havia muito muito vídeo, mas documentário. National Geographic demais até. Como se a interferência artística acabasse com a intenção. Mas a arte sempre foi uma usurpadora das mazelas. Mais recentemente das mazelas pessoais dos artistas.
Mas é uma delícia. E esta edição, também dentro do contexto descentralizador do globo, não contou com muitos artistas famosos, alguns, mas não eram “salas especiais”. Barrio e Cildo Meireles, este com uma instalação que só descobrimos na hora de ir embora: carrinhos de picolé sabor água a 1 Euro cada.

(())

Constable e Turner na Tate Britain. Landscape, londscape. Constable tinha obsessão com a representação das nuvens, que efêmeras, são incapturáveis. Ou ele gostava muito, ou tinha dificuldade, que às vezes dá no mesmo. Como a foto não é realidade. Então você caminha por uma série de paisagens que de súbito vira só nuvens. Uma corrupção do gênero. Comprou uma casa em Hampstead Heath para ver melhor. Fizemos um picnic lá num dia de verão. Já Turner não precisava da paisagem, tinha várias na cabeça.

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O básico para sobreviver. Um quarto para dormir, uma cozinha e um banheiro. O trabalho. As coisas representadas e respingadas, tocadas, participadas.

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Uniformes manchados de tinta. Paul McCarthy e seu papai noel manchando tudo de verde, como o sangue em um Massacre da Serra Elétrica. Todo o Desvio Para o Vermelho do Cildo Meireles. Chorume sob a terra. O leite derramado. Pegadas vermelhas denunciando sua passagem pela terra. A água, que limpa tudo e sai manchada. A pintura é simbólica. Meu sangue é azul.

())

Sons, não músicas.

())

Desvio Para Cildo

Hipotético tudo isso: queria ter uma white cube e baldes de tinta e um aparelho de som. Todas as músicas que ouvia enquanto fazia a pintura seriam reproduzidas ao contrário, porque seria um retorno a um momento, como se fosse possível. Músicas ao contrário tb
não são compreensíveis ou mesmo tragáveis. Arte não é lazer, afinal.
Não seria uma instalação, mas uma pintura.
Gostaria tb de fazer os sons para outro ambiente. Regional Klein Blues.





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