a relatividade das pequenas

sábado, agosto 17

Uma série de desenhos eróticos e outra de pessoas com números escritos no corpo, como competidores de Iron Man, travessias a nado, ou competição de permanência em sauna, como a última na Finlândia. O calor deve ser a última dimensão lá mesmo.
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Porque esta angústia com a uso do tempo? E mim claro. Você faz o que quer. Mas, fora as coisas que estão traçadas por você e que de um jeito ou de outro v. tenta viabilizá-las, por que essa coisa do entreter-se, relaxar, e mais do que tudo, passar o tempo? Por que ele deve ser passado?
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Um cansaço não recente talvez minha própria preguiça e medo ( thanks Fer) estão tomando terreno. O fato é que estou empurrando minha depressão com a barriga. E não não consigo livrar-me do fulano Eu. Meu egoísmo tem uma fonte inesgotável.

Contra o barulho faz-se mais barulho? Comer carne para manter a agressividade (Fabinho, lembra?). Contra a apatia, mais apatia? Brindemos.

Um brinde aos pintores que eu conheci até hoje. E um banho de tinta na cara deles também. Fechem os olhos. Não é tóxico. Não é remédio. Não alucina nem interfere. Nada.

()))

Gostaria de pegar minha casinha com seu chão sujo e suas paredes mofadas e úmidas, jornais espalhados entre referências, desenhos amassados, manchas de tinta por todo lugar, aranhas e teias e colocar na parede branquinha de uma galeria em West London.



sábado, agosto 10

Lucien Freud na Tate Britain. Segunda feira e lotado. As pessoas caminham com o audio guide feito um celular colado na orelha e ficam ao redor dos quadros, numa distância para que todos vejam. Mas se você quer ver a tinta tem que chegar pertinho. Daí as pessoas vêem a sua nuca realista mas sem pincelada. Freud de longe é real, de perto é pintura pura, grossa, colorida, mão treinada. Se é rebelde é porque não seguiu modernismos. Teimou na iluminação forte do atelier, nas pessoas dormindo., em suas cores chapadas. É bom ver as pessoas dormindo. Impressionante os quadros enormes e mais ainda os mini quadros, menor que A4, que ainda assim passam o mesmo tratamento, o mesmo enquadramento. As pessoas saem raspadas da exposição.

De saída a Tate nos ataca com camisetas e canecas "Freud”. Isso não me agride, por assim dizer, mais. A arte é um entretenimento e é caro, supervalorizado. As pessoas querem ter uma lembrança, um objeto que diga aos outros e lembre que v esteve lá. Você e suas memórias podem sim virar reprodução e camiseta. Pode crer.


(())

Chris Ofili na Victoria Miro. Freedom One Day. Africa. Negros em poses mitológicas detalhados com continhas coloridas, sobre merda de elefante. Uma espécie de paraíso, pela cor, pela atmosfera. Havia alguns desenhos expostos noutra sala, um pouco esboço e um pouco obra, que são fracos. Sinal que a pintura é quase tudo ali. Bom impacto visual e um trabalho meticuloso. Em cima macacos. A sala estava escura com luz direcionada para os quadros, refletindo o quadro no chão por causa das contas.


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a luta do bem contra o mal, do racional com o animal.
Do carnaval contra a filosofia. Da rotina contra o espontâneo. Da representação contra a abstração, da linha contra a mancha, da alegria contra a tristeza, da segurança contra a aventura, do novo contra o passado, do familiar contra o estranho.

Organize-as em colunas e agora esculhambe tudo.




domingo, agosto 4

Coisas com um fim em si, novamente. Dois amigos chegam à mesma conclusão, que ambos tinham a mania de “alinhar” as coisas, arranjar simetricamente coisas aleatórias, como um jornal sobre um livro, e este sobre uma mesa, onde todos deveriam ter seus vértices alinhados, seus lados paralelos, bem como o lápis, o copo, etc. Um deles comenta outra mania, essa com frases, onde as sílabas deveriam encaixar-se, por exemplo, nos quadros da parede, enfim, esquisitices. Jogos cujo sistema é exclusivo, efêmero, com um fim em si, o fim de ser um sistema, apenas. E claro, um passatempo (palavra horrenda, ver assassinato), onde a mente age sob efeito de uma criação sem origem determinada. Inércia, não se deve fazer as coisas por ela. Ela é infalível. Nem tudo tem um porquê.
O conto City of Glass, do Auster tem uma boa dose disso. O personagem enclausurado que fala com deus através de uma poesia de palavras criadas por ele; a linguagem, coisas e palavras (“nonada”, viver é perigoso), a torre de babel (“portal de deus”, mas segundo o velho testamento não foi deus quem deu os idiomas, foi, acho, o capataz ), a obsessão. Montaigne, a selvageria e os selvagens, as doutrinas. Relativismo.
Tudo o que está no fundo pode ser fundamentado.
E se quisessem os construtores, em resposta à quem esculhambou seu entendimento, fazer um buraco até o inferno?
“Bô”, diria um italiano.

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tradução muda incompleta crua da poesia.
Morning
Fotos das pessoas (onde estou) quando acordam.
A louça. O sol, a vista, o que não se vê mais.
O plano geral da cozinha. O plano geral da cozinha com todas as portas (máquina de lavar, geladeira, armários, janela, forno) abertas.
Essas pessoas no trabalho. Foto de identidade. Acting.
Qual é a poesia?
Uma foto do seu rosto ganha o título de “os pensamentos de fulano”

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SANTO EXPEDITO

Lixo amontoado, como aqui há em abundância. O escultor-mentira. Objeto-encontrado.
Santo Expedito. Urgente.
A mão toca as coisas (urgentes). O que o olho procura. Forma e matéria, o que pode fazer com elas, nelas. Uso, urgência. As coisas estão no mundo, meu filho.
National Gallery, Tate, fachadas.
Trafalgar, não alimente os pombos. Turismo.
A foto do santinho na parede e velas na parede, altar oráculo das lamentações urgentes.
O cotidiano é urgente. Irrefreável, incontornável.
Registro de performance.
O artista tendo a visão de Santo Expedito. Com óculos 3-D. A foto ampliada, com filtros vermelho e verde.
Outra com o artista sendo ofuscado pela imagem. (puxa, essa foi por acaso mesmo), pondo teatralmente o braço sobre o rosto.
A personagem tomando um café na janela. A vida urge, mas eu não tenho os poderes.
Alguma gravura tocante à isso, encontrada em um brique, Prometeus, a simbologia das pinturas clássicas. Santos, santitos, filósofos. Ficção, fricção.
Imanência e urgência. Os pés não saem do chão. Foto dos pés sobre o chão. O santinho no chão. Um pedaço do chão.
No metrô, escadas rolantes. Porque personalizar estações de metrô, aeroportos, (como o
recente de porto alegre, que parece um lugar qualquer, porém, com obras de artistas locais.)
Sobre seu colo a gravura, a mitologia vai de trem
(O personagem como que gritando, anunciando, com as mãos ao redor da boca, megafone.)
Nós somos urgentes porque efêmeros.
A imagem do jogo de onde-está-a-bolinha?, prestidigitadores.
Sonhe, sonhe.
Olhos matinais, semipuros, semidespertos.
Man Ray.
Artista-caído. Durma.

(Isso pode vir-a-ser um livro de artista.
Assina como um grupo independente de não-artistas.
Painel de fotos 15x10. o livro das emergências. Ou das causas urgentes.
apêndice explica que no brasil manda-se reproduzir e distribuir um milheiro da imagem com uma oração em agradecimento para “propagar os benefícios do Grande Santo Expedito”.

“Não alimente a imaginação das pessoas”.

((((((())))))))

Pintura
ratupin

Pintura não urgente nem emergente,
Submergente, cega, lenta, preguiçosa e vagabunda. Suja, não asséptica.
Luvas de plástico, roupas especiais
Ligia Clark faz-me experimentar roupas desconfortáveis.

(Isso devo muito ao Nauman, coitado, eaaaaaaaaaaaaaaaaat).

Pintura. As imagens não devem (se devem) ser mais apropriação. Acho que é isso o que o Vergara falava do saco da Pop-art, e estamos um pouco condenados à ela ad infinitum pela circulação das coisas. Da mesma forma com a materialidade. A matéria das coisas não as sustenta faz tempo, ainda que partamos delas para algo... que não está lá para acrescentar, promover, mais para ser o próprio motor. ADeus, motor imóvel. Mas eis que um pintor, quando lhe dão ouvidos, surge com uma pintura-pintura, e a imagem de alguém que faz algo em arte e se diverte realmente, e lá está o novo empurrão.

A uma pintura feita de sangue, vinho ou esperma deve-se acrescentar um fenol. Vida, mas nem tanto.


Senão, então. . .

Os livros de Próspero. Não eram reproduções, no filme eram vivos. Fecha o livro, não é
mais, nem profecia dura.

As coisas não saem como esperadas. Plano, perspectiva, superfície. Casca. Música por copos de cristal. Dedos que devem apreender o tato e um ouvido que deve aprender a esperar.

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Felice Beato (?). Fotógrafa que há cem anos registrou o Japão. Exposição na Victoria and Albert Museum. O mais interessante eram as pinceladas que ela dava para destacar alguns elementos tais como a estampa da roupa de uma gueixa, as tatuagens de um homem, etc.

Manipulação, com propósito, recentemente imprescindível. Para ela talvez uma necessidade técnica, documental.
Richard Hamilton o fazia com necessidades próprias tb.

Processo, relação direta com o autor (Talvez simplesmente para nos localizarmos diante de uma obra como um algodão enrolado em uma ripa. Ou polvo ao molho de sua própria tinta. P.S. isso não tem nada a ver com a expo. do Japão).

((((((())))))))

Qual a sua imprimadura? Sua pintura vem precedida de qual cerimonial? O mundo não precisa de pintura. Nem de artistas no sentido moderno. O artista continua um símbolo, mas desmascarado, ou supermascarado, mais propriamente.

Que divertido e chato aquele díptico. A parte que é fundo sobre fundo foi um momento pintura que quero perseguir. O lado retrato é uma pintura que me persegue. Coloquei-os lado a lado para ver se comiam um ao outro. Não. Ficam estáticos como só uma pintura sabe ser.
Outra coisa: reproduzir algo com esmero para então borrá-lo a ponto de quase sumir, para de certa forma trazê-lo novamente à tona é inversamente biotônico, outrossim, pode-se pensar desta forma.


Há uma coisa que me cerca: um intimismo intimidador .

((((((())))))))

Imaging Joyce – British Museum. ilustrações de Richard Hamilton para uma edição
especial do Ulisses do Joyce. Gravuras, aquarelas, um auto-retrato frente a um espelho quebrado (mb). Um desenho sobre papel de açúcar (?), folha de caderno. Todos com aquela moldura e um grande “paspatú”

Em sala ao lado, um cartoon – como são chamadas as matrizes em papel, tamanho original, para a passagem do desenho para o afresco (penso que com a técnica de copiar as linhas pontilhando-as com pequenos furos sobre a linha do desenho no reboco úmido, penso), feito pelo Miquelangelo. A proposição é desconhecida.

((((((())))))))

Tema tema teima
O céu e o inferno
O bom o mal o grande o pequeno

(você inventa o amor eu invento a solidão. TZ)

desenho de câmeras, cctv. Aqueles olhos negros nas estações de metro. Fotografá-los, pintá-los depois borrá-los, personalizando-os. Ralos.
Parques. Nanquim sobre terra. Tinta sobre areia. Tinta sobre sal, cocaína, aspirina.
Biodegradáveis. Azul, verde, vermelho. Radox, soup. Plastico. Amor.
Homem vivo, acima e abaixo de tudo. Omo e a maior sujeira do mundo.

“Tem que ser direto e epidêmico” (mlivre s a) .

mundo já cheio de questões. Artista não tem que ficar questionando. Racional o cacete.
O curador tem ou nnão o olho que tudo cura, ou deveria curar, curativo.

Uma, duas linhas que fazem um rosto, ou querem dizer uma maldita coisa, são cobertas por incontáveis sobreposições de baldes e borradas tintas pre-misturadas. Onde estava a figura tão bem rastreada, contadinha e dominada? Perdi, perdi novamente e novamente.

((((((())))))))

Nos fundos da National Galery tem a National Portrait Galery. ela perguntou bem: o que deve-se ver, os retratados ou os artistas?
Mas entre aqueles notórios, percebe-se um que outro Lucien Freud, uma máscara a partir do próprio Bacon, e muita gente. A segurança exclama: awful!


Livre-se rapaz. Pense depois.

Catalogação
Artistas viajantes
Exemplos, referencias
Não distanciamento crítico, mas aproximação ao estranho. Você o faz com os olhos que possui.

Essa música é colorida.
Os tons são ainda escuros, melancólicos. Melancolia com tons maiores, o que é mais difícil.
As palavras são as últimas coisas a surgir.
É leve, curta, repetitiva, cíclica.
Não quero sonhar.
Por gostar muito eu nunca prestei atenção.

((((((())))))))

To Jean


White Cube 1. Um cubículo simpático na Duke St. Rua que desemboca na pomposa Royal Academy of Arts. Pinturas de um sujeito chamado Harland Miller. Título: To Jean: A Small Memento of a Great Efford, Love Alan. 4 telas de 213 x 155, um tam. muito bom aliás. Óleo s/linho. Reproduz capas de livros da Penguin Books, que são tb uma série onde só muda o título. Eu gostei bastante. Passa aquele prazer de uma grossa e plastada pincelada, ou diria broxada mesmo, que escorre, e a mistura do óleo é poderosa. O cheiro na sala pequena tb. Tela tem cheiro, quase toda expo tem cheiro. Bienais são boas para isso, cheiros diferentes em cada cubículo com imagens não exatamente correspondentes. Manchas, displicência programada, mas vá. Pop, letras, nonsense, mas com raiz em algum lugar das reminiscências. Algo para jogar eu dizer que é seu e é do mundo, mas ele pode mudar, projetar, alterar as cores, o projeto, então é só dele, mas ele devolve porque ele é um pintor e está mostrando isso para quem quiser ver. Eu vi. E “o que lembro, tenho”, não?

No texto que recolhi na galeria também fala da personalização do universal. Consta que o sujeito é escritor, de verdade. Estudou pintura na Chelsea e viajou por aí. é um fudido.

Mark Gilbert – National Portrait Gallery. Muito bom pintor de figura humana (desfiguradas) Um projeto do artista, que acompanhou pessoas acidentadas antes e depois de suas reconstruções faciais. Muito bom. Fundos chapados. Kipemberguer pintou um rosto acidentado.

Um conto do Camus, no Exile and the Kingdom: The artist at work. Bem bem. Solitary or solidary?

Nan Goldin – devil’s playground, na Whitechapel. A tatuagem de Vitoria.
Ar te hedonista. A felicidade é hermética.

Quanto à vocação para as “banalidades” da vida, que seja. Arte não pode ser tão hermética nem moralista mesmo. Life is short, e banal quase a maior parte do tempo. Ela é banal enquanto coisas fundamentais acontecem sem a nossa indiscrição.

Comprei um livro para desenhar. Mas só consigo rabiscar escrevendo. e no computador. Um caderno branco para coisas “vir-a-ser”. Até quando eu espero não sei.

((((((())))))))

Fomos na Tate por ir. Talvez o melhor lugar de londres (inverno). A coleção de um lado, cadeiras para encostar e ler os catálogos à disposição (com uma corrente resguardando-os) tendo o Thames como paisagem. Leve o caderno e gaste os olhos.
Mas não vá quando estiver em exibição Andy Warhol. É muito cheio e colorido, leviano e acocacola. Uma instalação meio boring do Juan Munoz, que D. o tenha.

Vento - entidade, cairei quando eu-ente, desistir. Assopro contra ele.

((((((())))))))

Comprometimento. É preciso ser sério mesmo? No olho do furacão... é possivelmente mais fácil depois de assumir o artista, as manchas na roupa e é isso o que faço. Metier. A auto-crítica a timidez, a fragilidade de tudo isso em você e no mundo deixamos para os pensamentos insones.
INSONES

E A MÚSICA é um anestésico.

((((((())))))))

LANDSCAPE
LONDSCAPE

O pintor (mais um que desenha com desdém) sobrepõe imagens de sua terra natal, com
imagens colhidas na terra onde seus pés flutuam. Alhures manchas colorem a atmosfera, no que parece ser pintura por pintar, sem os pincéis. Vê-se então as linhas de um santo expedito misturando-se com o desenho de um Halal Food- Kebabs. O resultado, bem, o resultado sabe-se lá a intenção-o-desespero-o-meio-sem-fim.
Meio sem fim.
Kultur. Tema.
Kunst (art)
Lembre Walter Goldfarb.

Você coloca um ícone numa tela (santo, etc), está mostrando que é só uma imagem. Da mesma forma que refaz todo o caminho da idolatria, pessoal, mas idolatria. E todos tem olhos para um santo, crendo ou não. Respeito acho. A fila para a beatificação, a promoção do homem-que-vivia-entre-nós e ficou famoso diante de deus. Religião como sistemas obstinados que se faz mecanicamente. O “moto” da vida. Lembre porque você começou.

Estética do arrastão. Pode ser séria. Paredes com sobreposições de tinta como renovação. A queda. Mas pode-se reconhecer nos escombros, por exemplo, o rosto jovem e vencedor de Pelé. Brasília, Niemayer, Bossa Nova. JK.
Candidato a modelo para os cidadãos sem referência, numa américa inferior sedenta por vencedores próprios.

((((((())))))))

A cultura e a civilização. Elas que se danem. Ou não. Contanto que me deixem:
O a m o r.
&
Desenhos, rabiscos, tatuagens, impressos, grafites sobre as mais diversas texturas e superfícies. Sinais de uma presença estranha sobre a continuidade.
&
uma refeição prolongada pelo vinho tinto.

Mas meu lado rude diz:
Eu não estou encontrando outras coisas que eu sei que estou procurando.
Não estou encontrando outras coisas que sei que me farão mais feliz.
Não estou encontrando as coisas que parecem não estar me procurando.
Ou estão?

Por exemplo eu sei que não estou encontrando os textos. nem os pintores. Nem o lugar para estender um almoço com vinho tinto pela tarde toda.

((((((())))))))

Tate again

J. Beuys- litogravuras e re-catalogação de folhas, gordura, feltro (mitologia pessoal inventada)
Gosto cada vez mais e entendo cada vez menos. Gosta-se do que entende-se?


O que você está falando?
O que você está?
O que você?
O que?
O?

Comprei um livro sobre arte.
Parece bom.
Ao menos é bonito.
& Não vou complicar mais.

Parenteses dentro de parenteses. O Flávio G. Falou de conjuntos. Queria fazer um trabalho sobre isso. Um exclui o outro. Ou inclui. Espero que ele tenha feito. (((())))

{ ( ) } <
O Hélio Fervenza fez. Acho.

((((((())))))))

falar é fácil

(Escritos funcionam como gavetas da nossa consciência. Pinturas não. Descartes pensava que a memória ficava escondida nas “dobras” do cérebro.)


London.
Já.
era.

Meu nariz, meu umbigo, quem manda
Manda matar,
Manda ver a esquina
A sinistra
Meu nariz não aponta para onde vou.
A esquina já está torta.

9999999900000000

Intimismo, intimidar, intimar

Vendo o menino me vendo
Deixei-lhe um sorriso
Mas quando olhei meu reflexo no vidro
Aquilo não era sorriso.



999999999999999


preciso de um foco
um foco
preciso de um foco
parâmetro, parábola
espelho, vulto, sombra,
modelo, corrente

foco.
Vai ficando tarde
Bocejo à meia boca
Não esqueço fácil
Não sorrio à toa.

Gigante!
Falar é fácil

Falo por mim

##############

6 março, nenh um retrato.
Estou nesse 15 ° andar (odd floor) predio feio, mal cheiroso. Ela viu o futuro no prédio implodindo.
Da cozinha vê-se a City (as megacorporaçõestrabalhandofulltime*)
Liberais.

*mundo livre

(quase samba)

O que você faz depois do trabalho? Não trabalha.
Igreja, sindicato, buteco, pelada,
casa, comida roupa lavada.

Quem tiver tempo, junte os trapos.
Faça um quase samba
Pinte um quase retrato
Com os pedaços do santo expedito

(())

Walter franco e seus ouvintes.
Waletr fnacro suse ou vintes.
E mal via ele, uma pessoa-grande.
Eu pequeno.

(((())))

os insones o são até que os durmam/acordem
não sou insone mas acordo sempre porém não sei se é o meio da noite ou meio do dia que durmo.

Os insones não são.

(())

Sussurrantes são os que berram mais alto no fim.
Falar por falar é vento. Falar pelas ventas.

Não enviados
Londiniun 1

Não sei se sou eu ou Londres. Talvez eu seja pequeno demais para suas duas faces. A primeira é a ideal, não como o paraíso, mas além do inferno. A segunda é o subserviente e isso amedronta. A vida passa a ser a preocupação ordinária com os contos, o trabalho. Não nasci para ser tratado como idiota, mesmo que muitas das minhas atitudes, na simples falta de jogo de corpo (fique calado, obedeça, baixe a cabeça, seja eficiente e produtivo, deixe ser caçoado, sorria e tente não ser despedido hoje) façam-me um idiota de corpo e alma.
Isso é a Europa para todos os seus imigrantes. Mas, afinal, não podem eles olhar-nos e mandar-nos às favas. Já pago impostos. Pago o transporte mais caro da Europa, a diversão mais cara, o metro quadrado, a paciência, a tolerância, o enquadramento racial. Portanto, sorriam e tratem-me com amor e distância, pois assim mandam as religiões e os governos.
Além do mais, minha honestidade é nojenta como suas ruas e danço, realmente danço conforme a canção.

É tudo uma grande invenção. Londres não é do terreiro, não é silicone, não é do dindim, não é de ninguém. Londres é de nada.

((((((())))))))

Babel. Label. Não conversamos não porque não nos conhecemos mas porque não queremos e afinal, ele é indiano, eu sou sul-americano. Nem mais nem menos humanos. Temos na mão a chave de nossa unidade habitacional babélica, onde afrouxamos as roupas de trabalho.
Eu barista, ele cobrador de ônibus ou .... serviços. Algumas mulheres andam atrás dos homens de rosto coberto e sandálias sob um frio de quatro. Estou todo encolhido. Não represento ninguém, ou ao menos não queria. Mas a minha vaga está marcada, enquadrada. Já sou antes de chegar. Olhe meus documentos, não estranhe minhas cores diferentes, é apenas o cabelo sem cor. Não são frios. Nem quentes.


Samba como bossa como jazz, como new beat, Denso e leviano como Jobim
Estranho como Astrud, cariocas. Patético como o pato cantando alegremente.
Ipanema era só felicidade, turvou.

((((((())))))))

Bablo. É como o indiano escreveu na minha ficha. Como soletra? Como desenho o seu nome? seu código? Bablo.

((((((())))))))

A estrada. Ir. Grandes passos são fáceis. Os pequenos... passos sobre ovos, propulsão artificial, máscaras de oxigênio, suspensão do juízo, humildade, sobriedade drogada, placebo, responsabilidade depois de ser bravo, cego e covarde. E agora incluirei o contrário. Não é mais opção. Even and odd things.
Pao da mesma farinha. Cupim no mesmo pau.
Farinha da mesma pílula.

((((((())))))))

Cães para aluguel em parques. Amigo por um dia, algumas horas. Um labrador que você pode botar um nome idiota e (o cão é treinado para amar a quem pagou para ter isso) sair por aí com uma bolinha de tênis. Eu poria Sebastião. Ou Rocha.

((((((())))))))

“ I think the point where language starts to break down as a useful tool for communication is the same edge where poetry and art occur. It is how the familiar and the unknown touch each other that makes things interesting." Nauman.

Pior é que um caminhão de artistas já falou das qualidades contraditórias que constróem uma linguagem possível que cai bem com a arte. Fealdade e beleza. Pesado e leve. Novo e histórico. Engraçado e sombrio.

Morbid Plasticolor paintings. Ideal para pequenos formatos de mãos pequenas e sem capricho. Ou caprichosas por serem. Coloridos como os crânios do Warhol. Aliás.

Home
Pinguim assustado, em pé, quase morto, na areia. Um menino com seu balde laranja em forma de peixe, num verão irreversível, o encontra.

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Não pinto. Na verdade pinto infinitas telas. Ou uma tela infinita. Faço um olho branco para um mundo e abro para outro. Então as texturas começam a aparecer. Daí me vejo atirando bacias de tinta sobre telas imensas. Telas imensas parecem caber só na idéia, porque os flats são mínimos. Vejo cores fortes que não ousei antes. Pintura de ação, porque então quando do meu projeto de graduação só saí do plano terrestre quando fiquei com raiva. Oscilando, desistindo de gostar e judiando. Contudo, depois da queda vem a ressurreição. É quando você limpa, controla, esconde, metaboliza, pondera, retoca, pincela e torna-se inseguro ou zeloso, sei lá. “Dunno”. Quando é morte mesmo não sei quando é a ressurreição tampouco.
Mas a ação a textura é a própria pintura, a materialidade, a coisa em si da pintura -pintura. Enquanto persigo o contraponto de imagens leves que passeiam pela ação, e que talvez seja remanescente do mundo, da poluição, da representação.
Eu sou um pintor ideal.

((((((())))))))

Mas esse contraponto é necessário. Pausa e violência.


=====

Tenho pensado e comprei por isso tenho talvez descoberto que gosto ou fui induzido sem culpa um livro de stencil grafitti. E passo a despersonalizar minhas idéias de traço a cada vez. Rostos isolados em stencil com muita pintura de balde alhures.

De novo Tate. Estava falado para o Nik que faltava Kiefer lá. Não é brincadeira, entramos imediatamente numa sala com três grandes telas, e ele falava justamente da Lillith, sobre São Paulo.

Este arquivo é abandonado para surgir sozinho, sem nenhum autor. Se fosse possível, talvez não gostássemos do resultado.

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Oiticica na Whitechapel, a segunda. Cosmococas, filmes e fotos de rapazes no que parece ser uma casa de favela – penetrável. O Parangolé é totalmente outra coisa que Artes Plásticas no corpo daquelas pessoas, naquele cenário. E estranho que também não parece “incorporar” o sofrimento, a raiva ou o que quer que seja. Incorpora uma vestimenta e lhe é autorizada a dança, a alegria, o deboche para e pela platéia. Mas um vídeo- suporte favorito hoje- entre paredes brancas e público aberto (por ser culto mas fechado para meio mundo), o Parangolé, sem explicação, ou história do próprio Oiticica, fica latino demais, algo por certo esperado, programado. Negro, samba feliz, incorporando a dor.
Entramos numa sala com projeções em slide de uma situação cocainômana com um Luiz Gonzaga vingando. Conchonetes espalhados pela sala convidam mesmo para uma esticada (no chão). Olhamos para o lado e lá estava um clone, muito parecido mesmo, e falando português, e só podia ser ele mesmo, o Nevile de Almeida, co-responsável pelos trabalhos. Estranho. Na sala com Balões e Marilyns lembrei do Warhol com seus balões e Marilyns. A sala com redes atravessadas é linda. Jimi cheio de pó e nós atirados numa boa e saudosa rede em Londres. Não sei a quem devemos a menção, mas obrigado. Mesmo.

12 maio

Penetráveis. Estou vindo da Serpentine Gallery onde um coreano de Seul (ver nome) fez uma coisa muito bonita e gostosa de estar. Duas reproduções de casas em seda, ou voil, uma delas um flat em tamanho real, com detalhes, da cozinha, banheiro, hiting. Delicadíssimo. Idéia de casa nas costas, pertencimento.
Ele Coreano (eu, o brasileiro italiano alemão português estrangeiro no estrangeiro do estrangeiro e passageiro). Trabalha com duas idéias: a primeira, uma alienação do indivíduo pela homogeneidade. Sessenta rostos sobrepostos construindo um só; uniformes escolares; plaquetas de identificação de soldados; papel de parede feito de rostos. E o oriental amarelo é para nós um só. Preto nos olhos e amarelo. A segunda e melhor é a do deslocamento do artista por várias metrópoles ocidentais e a casa nas costas.

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Tenho feito manchas. Não pinceladas, manchas. Um curioso despejar par ver o que acontece. Como monotipia repasso para outra folha e gosto mais ainda. Gravuras e impressão. Abandonando as sobras do primeiro escorrimento a forma fica mais gráfica e marcada. Gosto de olhá-las cada vez mais. Quase não autoria. Nem sinal. Nem propósito.

A vida já é perecível demais para esbanjar-mos com coisas perecíveis.

Pintura carnaval. Brazil carnival canibal canavial. Ugly colours. Lindo feio. Charlatão. Ninguém acredita no latino. O latino não quer que acreditem e o levem a sério no estrito termo, porque isso ameaça um pouco ou o pouco do que foi construído como identidade. Terra em transe. O bom pequeno brasileiro, intimista, mas consciente do gigante alegre e desengonçado, mas cheio de artimanhas de simpatia. Esse frankenstein.

Acho que a arte fora dos eixos precisa ter sempre um ritual por trás. A pintura como uma consequência de uma série atos voluntários e muitos involuntários, condicionantes, culturais, peculiares que culminaram no objeto, na tela.

Quero manchar o pano. Tenho pensado em coisas líquidas jogadas sobre superfícies. Um pátio, uma parede, uma camiseta, costas, papel. A mancha em si depois é só um sinal de que algo aconteceu. É um vestígio, um indício. Uma faca é encontrada no mato suja de sangue azul. Da cabeça do corpo caído escorre sangue amarelo.

O bufão entorna uma garrafa do destilado carnavial translúcido e responde ao som de um samba. Estava sério, mas chama a todos para participarem de seu ritual. Este no entanto não será possuído por espíritos, por que além de estar fora de contexto, não é um homem religioso. Herege. Herege em qualquer situação no mundo. Continua sozinho e volta a ficar sério. Seu vomito é verde e rosa.

A mentira de um ritual. Como a mentira da identidade. Como a mentira da inspiração. O suor será toda a verdade. Suor amarelo ouro.

A vontade é tudo. Mas não justifica.

Tunga é todo ritual e materiais fortes, atraentes.
Daí olhamos um quadro de Freud. Pintura engolidora. Uma gorda atirada gostosamente num sofá. Pintura. Verei, veremos. Anabela Gorda.

Projeto: baseado na dúvida. Aquela imagem a que o Vergara se refere, de uma entidade onde os fiéis passavam a mão cobrindo com uma espécie de tinta e depois limpando no muro. Penso em coisas que simplesmente fazemos sem saber mais o porque. Então pinto na idéia rostos como o Santo Expedito e o Garrincha, o que seja, pintados incontáveis vezes. A palavra “amor” e “pintura” também. Então lembro o porque do Nauman. Cultura, pintura, escritura. É como quando emaranhei-me com Nietzsche falando em tomar as coisas na aparência, porque é assim que elas se apresentam.

FLAMINGOS DE ALUGUEL

A escrever. O título é da Consuelo. Somos muitos servindo mesas por aqui. Ganhamos por hora e pegamos algum vinho no fim. Servir, esperar, sorrir, servir, assistir.


MINIMUNDO

A saber. Tenho um minimundo na cabeça. Somos muitos aqui, criando outro minimundo. Bilhões de minimundos circulando pela terra.

Falar da Mapping the Process. Será? Mais por que lembrei do Flávio Gonçalves e de arte povera. Tunga falando do lápis e do papel.

((((((())))))))

Eu quero neste momento fazer fotografias desfocadas. Um ensaio nu. Luz artificial, luz natural, o que importa. A técnica também não. Eu quero o desfoco. Ampliação descuidada, colorida. Pares pintados por camadas de tom que buscam reproduzir a cor das fotos, as entradas de luz, as formas, ou nem isso, formam dípticos. A forma está dada, não a reproduzo mais. É chato. As pessoas buscam verosimilhança mesmo na distorção. É inevitável, é a cultura do olhar. Viciada como a busca pela referência, que nos tranquiliza, situa, acolchoa. Somos medicados, testados, educados, moldados e coloridos. A sugestão ou o título Fulana ou beltrano posando, dá a entender algo interessante, mas que você não terá. A mera sugestão é poderosíssima. E tais fotos, além de permitirem uma perversidade técnica e temática que beira o prazer do livre arbítrio, podem ficar realmente boas. Minhas pinturas antes estavam partindo de fotos, enquanto que o manchar em si me era mais interessante
Ainda uma busca pelo sentido, mas com as aparências provocando mais que o fundamento.
As situações podem ficar boas tb. Formas, cores, pessoas, ambientes, familiaridade, perda, memória, registro, sentido, devanescimento. Pintura.

Mesmo que a abstração a partir da fotografia é algo normal.
Eu sempre quis usar óculos. Acho incrível alguém ter uma visão distorcida do mundo, literalmente. Como é incrível alguém ter uma visão clara das coisas.
Quem precisa de um foco? Eu, possivelmente.
Os livros do Waltércio Caldas, desfocados.

((((((())))))))

Suecos tocando bossa nova. Uma mulher nua posando como um cachorro com mordidas na bunda. Alguém que não sabe dançar samba, dançando. Fotos sem qualidade técnica. Pinturas sem fundamento. Listas.

A beleza e a criatividade servem (talvez outro termo) para tirar-nos do lugar. É um passo para qualquer lado.

Um copo de leite. Vinho. Café. E a poesia. Onde quer que esteja.

Ouço uma das fitas do Antony onde cantam go back 10 years ago, num tom americano faroeste (far west) heróico patético. Grande piada. Gravo minha a marca da minha mão no papel industrial e leio minhas linhas, eu vejo, vejo, vejo e estou mergulhando nas legendas. Gravo a outra mão sobre a primeira e agora perdi o rumo das linhas. Volto a ver mais nada claro.


Antony tb pergunta quando um ritual vira rotina, e quais são nossos maiores medos. Não geral, pessoal. Pensamos algo que soe universal no individual. Outra pergunta (no caso dele, mais pessoal mesmo): e se tudo o que fazemos é uma reação? É uma terrível pergunta. É uma pergunta vadia. Porque se tudo o que fazemos é uma reação, um bom naco da originalidade e da liberdade estão mordidos.

DIVINO MORTAL

Um ritual pode ser criar um ambiente quase ideal para executar várias manchas sobre um pano. Música.
Música é um grande hedonismo. Sexo. Álcool. Deus e Pintura abstrata.

Falando em reação, o resultado das manchas obedece mais a um movimento natural das coisas- uma resina com pigmento e muita água sobre um pano. São camadas sobrepondo-se com a água evaporado e a tinta formando cores e formas variadas. É muito simples. Um pouco como Pollock, como as spin paintings do ... Hirst , enfim. Mas a abstração é obviamente resultado de uma ação, de uma intenção. Muito se perde quando se esquece o metier, a idéia própria de cada meio. Não como uma apologia da especialização, mas talvez auto-sobrevivência. Mas eu comecei querendo falar sobre a Natureza, algo superior, divina porém mortal.

ENGRAÇADO ver as exposições de final de curso da Universidade de Londres e encontra tanta pintura e abstracionismo sem culpa. Quer dizer, não li seus textos, ninguém leu, exceto orientadores e familiares. Mas parece que a euforia da Britart continua.

((((((())))))))

A publicidade gasta seus neurônios criativos mais que todos nós. Nós temos que aprofundar mais que criar, possivelmente.
Desligar a Tv para sempre da vista. Se temos a chance de revolucionar (sim, o revolucionário não sabe exatamente que está revolucionando) podemos cobiçar sendo simples. O que está na mesa não é o que se come. E somos todos mártires porque no fim todos morremos, cedo ou tarde.

O espiritualizado sabe exatamente do que trata? Ou é uma grande vontade que se impõe? E pode ser qualquer coisa, fetiche, referência-reverência.

Voa Jorge.

Mas estamos falando muito em vir-a-ser e sempre desprezamos o estar-no-mundo

Cores para o silêncio. Cores para o amplificador. Cargas eletro-magnéticas alterando a forma de traçar uma reta e um círculo. Alterando a forma de representar a figura humana.

Se quero falar das coisas, talvez não queira mais falar sobre a técnica. Mas é possível falar da técnica por analogia e sugestão. Falar do que se perde e o que se ganha quando passamos do tridimencional para o plano e vice-versa. Mesmo porque sempre tenho a pergunta “porque” no ar, como uma criança chata, mas com um adulto resignado ao lado pensando que é melhor não pensar nisso agora.
Pergunte ao pó.

Estar de cara é Silencio melhor.


LIVRE/O/U

Livro de estante mesa mesmo apoio para luz (será um apoio para a Luz, levamos gigantes nas costas). Os gigantes como os mitos foram escorados por anões. Moradores de um minimundo incontrolável, atômico. A bela adormecida.
Rascunho será obra. Obra será rascunho.
O tradutor faz passagem de plano, dimensões, como o desenhista. Traduz linguagens porque sabe algo percebe nuances próprias de como as coisas foram colocadas, descritas e criadas.
Se quero dizer Falar é Facil é porque quero traduzir para o desenho e para a pintura. Qual é o suporte da fala? O ar. E é temporal. Nossa, entramos aqui na lavoura do tempo e do espaço.


A consu arrumou um atelier para mim na casinha nos fundos da nossa casa. Agora preciso pensar com as mãos sujas. Nada é branco exceto a superficialidade da intenção. Preencherei as paredes com imagens que gritarão ao redor. Spin. Eu posso ser encontrado com o anão do jardim. Quietos.

Não pinto. Apenas escrevo “causas urgentes, paraísos instantâneos”.
Spiritualized. Amélie e a felicidade dos donos dos anões, estratégias absurdas, passatempos imprescindíveis. Tenho um Dunga todo surrado no meu jardim. Deve ter ido a Londres e alhures.

Esta x, que é a pintura que estou pensando, segue um veio natural, natureza mesmo, física, química, alquimia barata, meio sem mensagem (o meio é a mensagem). Eu não quero falar dos mitos. Penso em falar dos santos que não acreditam em Deus. Gosto de pensar que o homem é um transcendental de si. Por isso gostamos do processo, por menos doloroso que seja.
Onde eu entro nisso, universalidades à parte?

Eu “entrei na casinha”.
Daqui eu saio daqui alguém me tira.

Eu entro porque a sujeira da tinta nas unhas são comprometedoras. É a prova que você compareceu de corpo e...
eu entrei na casinha e não tirei o corpo fora.


Tenho que ir carregar pratos. O chef faz desenhos com calda de chocolate. Vik Muniz. Preciso desligar o computador pessoal. Adeus você.

MENTIRA

A mentira na sua própria medida. Havia uma frase aqui que deletei. Fácil teclar. Fugir do assunto é muito fácil. Como nossa relação com a finitude. Afinal, é preciso viver e sair ileso.

Morte aos artistas. Bom jeito de começar um livre.

A pintura vive de efeitos, coitada. Não escapará até “realizar” que seus efeitos são a vista anterior e posterior. Então levantará e....

Não quero ter o pesadelo de Fabinho. Não quero ser cobrado por não ter lido guimarães rosa. Não queria ser cobrado por nada, mas mea culpa está carregando-me janela adentro.

Deveria pensar mais nas minhas entranhas e raízes. Nunca as identifiquei. Achei que aqui fosse mais fácil, mas fico mais sem chão. O bucho da terra, como diz o outro do Cordel. Ouço eles cantarem, “o sol saiu...” e pela janela a maior chuva que terei que encarar com a resignação de um retirante. “Nesse mundo de fome e de guerra o santo da terra tem calo na mão”. Deles tb.

(((((())))))

qual a coisa mais importante? Qual é o lado para o qual o passo à frente deve ser dado?


Saindo do restaurante tenho feito caminhos alternativos entre o Soho e a Oxford station. Descobri uma galeria hoje. Perto da estação deparo com ela fechada por excesso de pessoas e a mais próxima estava fechada por suspeita de bomba. As pessoas esperam a abertura com paciência, assistindo um pregador, que, aproveitando a platéia e munido de seu megafone falava em fé, em Jesus e que não adiantava ter pressa pois todos iríamos morrer mesmo.

(((()))))

Todo bom senso é tendencioso.

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Quem é o pintor? Comprei revista Modern Painters (que custou uns 80 minutos do meu trabalho e consequentemente da minha vida). Abrindo-a senti-me parte de um clube. Eles se denominam arte com uma tendência para a pintura. Fazem uma ótima cobertura
de artistas de peso e valorizam seus escritores. Publicaram um livro chamado Writers on artists, que tem escritores, poetas, músicos (David Bowie), críticos de arte e artistas falando sobre artistas. Bem. Tem gente que não gosta dessa libertinagem. Acho que todos podem falar de qualquer assunto, inclusive o especialista. Pode-se cair do parapeito pela distância crítica tomada, mas a arte gosta dos riscos. E dos ariscos.

(((())))

todo gosto é duvidoso.

(((()))))

Layers e mais layers. A vida, os dias e os pigmentos.

(((((())))))

farei uma experiência com uma publicação experimental (mercado) escrevendo um roteiro de exposições. Que isto sirva para que eu as veja, pois. Agora, para quem vou falar não sei. Porque não quero ser o balaio dos roteiros, mesmo porque Londres é infinita, é impossível não selecionar. Por outro lado, que sugestão eu acrescentaria na terra dos guias?


Nas sobras das traduções, nas sobras das leituras, nas frestas da cultura, no resquício do argumento, no ato falho do discurso, no caldo da interpretação, no no no no bojo, na pororoca, na.

(((())))

Pintura política (ou o vazio)

Como produtores de leite insatisfeitos com o preço pago ao seu produto, arremesso litros de tinta no asfalto (ao invés de dar simplesmente).
Dar não é um ato simples. Doar.

(()))

estou lendo esse livro com entrevistas do Hirst. Ele é um subproduto da história da arte. Um cara esperto, que sabe levar porrada e às vezes um fucking good artist, não nessa ordem. A inglaterra adora tê-lo e adora odiá-lo. Se fosse americano iriam odiá-lo e da mesma forma lotariam suas exposições. Agora, que diferença faz para mim, se ele é daqui ou da Petagônia. Mas vemos diferença.


((()))

A RUA E O SALÃO

esses pintores de rua que usam “giz sobre chão” são curiosos. Eles têm um estilo homogêneo, pintam formas meio mandala, cíclico e repetitivo. Uns pintam imagens sacras e outros meio cósmicas. Aqueles pintores à spray em Porto Alegre que pintam em segundos formas ufo-setentistas revista Planeta. Eles são mais performáticos, usam o spray, cujo cheiro é mais etéreo, e fazem da agilidade, o que uns chamam técnica e
que pode ser visto como repetição exaustiva, um dom. Os pintores à giz são mais dramáticos, no sentido de que você os descobre expostos no caminho, curvados quase deitados sobre aquele desenho que parece fazer horas que ele está executando, usando só toquinhos de giz, o mesmo que nossos professores primários usaram. Eles são introspectivos e existe uma aura do artista em seu mundo e o mundo caótico tendo uma fenda aberta para que se veja o artista sobrevivendo.
Eu gosto de pensar na possibilidade de viver assim, alternativo. Há o clichê de que na América Latina não temos “Artistas” de rua, senão pessoas mais simplórias, excluídas da sociedade, pedintes e pobres. E que na Europa via-se artistas sobrevivendo com seu trabalho, pintando coisas tão autênticas quanto Picasso e Van Gogh (perfeito), uma coisa Paris. Lá pode até ter, em Praga, mas não sei. Depende do seu humor, de sua pressa, de sua condescendência e um bilhão de fatores e quem sabe até do desenho em sua frente, aquele ser em sua frente, pintando algo para você, se gostar dar-lhe um troco ou levar um exemplar ( exemplar?). Sinceramente, eu não me lembro de ter visto um trabalho de rua que me tocasse muito. E nem nos meus dias mais anti-sistema ( que daí o grafitti se presta melhor) ou máscaras africanas talhadas em madeira, pude pensar mais profundamente sobre estas possibilidades criativas.
Lembro do Paulo Gomes em uma aula, citando um professor seu, que dizia preferir ver seus alunos de arte desenhando na Rua da Praia do que virando pintor de fim de semana.
Mas falando em escola. Eu comecei isso tudo porque estava indo na National Portrait Gallery ver os selecionados do salão de retratos. Muito hiper-realismo e domínio técnico absurdos. O “troco” ali era maior. Quase fotografia, mas não quase realidade. Alguns escolados em Freud, em Chuck Close, nenhum em Bacon, Richter ou Hokney. Deve ser a tendência dos jurados este ano.
Salões, meu deus.
Salão de beleza é um nome engraçado.

((())))

O relativista é um infeliz, porque vive com os dois demônios, ou os dois anjos caídos (porque chegaram à altura dos homens) opinando incessantemente sobre os ombros. Um pouco diferente daquela história dos gigantes sobre os ombros, que são as nossas referências e mitologias, mas que são sopradas pelos demônios. Não vou entrar naquela de dionísio e apolo. E o relativista sofre de uma síndrome que o faz abrir os dois canais ao mesmo tempo, o que o faz sofrer um micro espasmo no momento de decidir.

((())))

Será que já enfiaram um artista de rua desenhando no chão de Kassel, Viena ou São Paulo? Com chapéu e tudo. Ou cem desenhistas à giz que pintam a Nossa senhora, ou cristo, pintando lado a lado. Porque em bienal tudo é à estoque.
Os curadores teriam seus corpos expostos como um desenho do Goya, (mentalmente e ironicamente, claro) ou como aquele horrível Tiradentes da Bienal de São Paulo 98. Aquilo foi fetichismo histórico puro.


(((())))

uma catalogação de murais de aeroporto. De pinturas abstratas em recepções. De esculturas de jardim de condomínios. De reproduções em canecas. De séries limitadas de artistas em embalagens de sabonete.

((()))

uma catalogação de salas de estar com pinturas valiosas.
Dizem que a Rainha tem mais quadros que a National Gallery, e que o patrimônio é incalculável porque isso tudo é inacessível, nem os contadores podem chegar perto.
Dever ter muitos cavalos (Gainsboroughs) e até o retrato de Dorian Gray.

(())

Outra para uma sala de bienal. Um workshop de pintura à spray em cartão com utensílios geométricos para criar planetas, prismas e naves espaciais. No final um paredão homogêneo seria apresentado como “Escola”, e um prêmio seria entregue ao melhor, ou o que faz mais rápido.

((()))

ao lado outra instalação usando pessoas intitulada “Para que os pedidos sejam atendidos é necessário que sejam justos”. Reproduzo novamente do santinho: “Hoje mando imprimir um milheiro desta Oração em ação de graças por um grande benefício recebido.” Paraísos instantâneos. A obra: um outdoor com o Santo, com pessoas distribuindo santinhos. Paraísos instantâneos em neon. Lembro aquele baião com colchões do Oiticica.

((()))

histórias cheias de moral. Histórias vazias de moral e com sentido. Histórias vazias de moral e sentido.

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Lembro de na Disney ter visto um brinquedo que simulava cinema. Era um croma-key barato com cenário de ficção científica onde você interagia com espadas laser tentando matar outros participantes, enquanto tentava se ver no vídeo, o que é o cúmulo da interação.

())())(

DUMMY

com a pequena câmera fotográfica saía-se pelo mundo registrando tudo o que quisesse, sem muito critério senão os que carregamos sob a pele, incluindo tudo o que sangra dos enquadramentos. Feito isso, colava-os na parede e criava histórias.
Por exemplo Steve, que deixou cair seus retratos no chão. Que sorriso estranho. Meio vesgo também. Será ele o Santo expedito, que veio dar expediente na terra? Está ficando careca. Meu santinho é muito estranho: é a foto de um boneco feito santo. Um dummy.

((()))

Melancolia instantânea

eis que é muito simples criar um clima: duas notas sendo tocadas num piano, como um insone. Fotos de um pai, de um irmão, de uma mãe, de três irmãs. Rapidamente a melancolia ganha espaço. Será isso uma melancolia instantânea?

(((())))


o mágico levitava. Tentava levitar a sua assistente mas só conseguia a si próprio. Tenho um sonho em que estou caindo. Nunca sonhei que estava pintando ou levitando. Eu poderia deitar o quadro e levitar sobre ele para ver à distância o resultado. Poderia jogar a tinta lá de cima. Se conseguisse fazer voar a tela, voaria sobre ela, mas eu tenho esse sonho onde estou caindo...

(((())))

Royal Academy of Arts. Summer Exhibition 2002. Fui pensando em ir em outra exposição no mesmo dia, e estava muito cansado do meu ofício de “runner”. Entro na pomposa escola, compro o ticket (uns 80 min. de runner) e recebo a lista das obras: um livrinho com 1059 trabalhos. Depois li numa fonte suspeita quie é a maior exposição do mundo, mas isso...
A idéia é das melhores, não fosse a seleção, que é quase tudo. Meu deus, então o curador é mais importante? Seria ele o curandeiro? Aguardo a reprise, o vale a pena ver de novo, com direito a você escolhe o final, que é uma leitura da interpretação, da revisitação, da releitura dos fatos, do perdão e até da segunda chance para errar, etc.

Enfim, são tantos trabalhos porque vai desde o rabisco (eterno) em agenda (moderno) até animais empalhados (moderno), expostos um sobre o outro, quase até o teto. E interessa mais a quem frequentou escola de arte.
O juri escolhe, as inscrições são livres, os trabalhos estão à venda e a escola, que já cobrou ingresso, que cobrou 18 libras de cada inscrição, fica com 30% da venda das obras. Vários trabalhos estavam vendidos, e muitas gravuras tinham cópias vendidas tb, ou seja, o volume expande. Todo mundo ganha. Ia de 100 a 100 000 libras. Mas o panorama foi bem fraco. Devo transformar a decepção em encorajamento, isso sim.

()))

Um projeto chamado Jazz on the streets midsummer festival coloca os músicos para tocar na Soho Square, Pubs e afins pelo Soho. Vi hoje um trio contrabaixo “de pau”, guitarra e calimba, ou seja lá seu nome. Gostei bastante da percussão e notas com baquetinhas numa panela como se estivesse cozinhando e tecendo.

(())

falamos a mesma coisa de formas diferentes. Toda linguagem faz isso. Estou sobrecarregado de imagens. Mas posso olhar para as nuvens sem formar nada.
Abstrair é trair o objeto.


Recuperar o que está perdido, brincar que isso é possível, brincar de perder.


A sujeira, o apagar e cobrir. Da mesma forma que quero brincar de recuperar o desenho perdido, coberto, voluntariamente, lembro que queremos esconder os desenhos que não gostamos. Até criança quer, e rasga, desiste, desperdiça.
Então tenho brincado de Nenhum Desenho Está Perdido. Ou, Agora Já Passou e Ficou.


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fim dos 90.
então dois garotos decidiram fazer uma banda continuando o jorge ben dos anos setenta, como uma missão. Constatou-se o surgimento de um puritanismo pré-moderno na arte, onde ninguém mais estaria consciente da história, ou relativizando. (e a guerra pegou fogo).
Um neo-vanguardismo surgiu quebrando o sistema falido das artes. Pré-profissional, amador, agressivo, reativo, a touca de um bebê sem cabeça.

((()))

Antony perguntas safadas. O Ritual Vira Rotina. Isso lembra e muito o Vergara e aquele “rito”. E sua própria obra, por certo. E brinco de perguntar “porque” como um ritual que vira rotina. O “porque” tem uma origem superior, a insistência da pergunta dilui a própria pergunta. A filosofia se perde. A lógica vive por si só. Acrescente a isso qualquer tendência e qualquer história. É um buraco negro e suas ramificações. Por que as árvores tem a forma que tem? Pergunte à gravidade, ao branco e à seiva.

((()))

familiar e estranho? Querer deslocar as coisas do seu território. De novo, porque o território é uma apropriação de espaço, consciente ou não, daí um deslocamento, conjuntos, subdivisões, formas e maneiras. Paul MacCarthy e Nauman. A foto do Steve, o personagem que está ficando família.

Família. Um território. Casa, identidade e a maior referência de uma pessoa independente da sorte.

STEVE PRAZERES

Um pátio como o pátio do Steve dos Prazeres. A razão vira ignorância de novo. Como quando o saber não tem importância. Só sabe. Como quando Platão faz Sócrates beber, Quando o santo vira confessional.

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Santa Chocolate Shop, do Paul MacCarthy, do livro do Collings .
Chocolate como merda, mito e indústria. 6 milhões de entradas na internet para o título.
Tocar o nervo.
Já é tão difícil ser normal. Mas nossos programas de normalidade são muito bestas e feios mesmo. Natal, aniversário, catolicismo, espiritismo, rituais.
Cinema, roteiro.
Pintura abstrata, instalações.
Escolas de arte.
Nunca precisamos tanto de uma violência intelectual. Mas essa é inerte, inócua e acaba em si.
No Brasil via todo mundo querer fazer arte com fundamento. Aqui vejo todo mundo fugindo disso.

FUNDAMENTO. Arte fundamentalista. O liberalismo virou um fundamentalismo. Econômico. Viva e deixe morrer. 15 minutos.

Tocar em algo que seja verdadeiro, real, humano. Daí é preciso que seja pessoal, porque por mais caótico que seja uma pessoa ela é um território.


CABE(EM (NÃO(COR(MEU)AÇÃO)CABE)MINHA)ÇA
CoraçãoCabeça. Augusto de Campos, 1980

(())
Se me viro para dentro só vejo o mundo.
Pois que nunca se é hermético por completo. A gente vem de dentro mas nasce pra fora.

(())

sou zelig, altamente influenciável, contra ou a favor.

(())

Steve Prazeres pinta abstrato
figuras que saem do imaginário.

A tinta nunca é suficiente.

Imaginário?
Vultos de pênis, borboletas, flores.

())))

Ambition makes you look pretty ugly- RH

(())

Pu t you r self t oge ther

Estados de espírito. Ontem fucei Kiefer e Klein. Eles me fuçaram. Ao menos aqui não vivo de reproduções, posso ir na Tate só para ver de novo. O International Klein Blue. O International Kiefer na luz da International Gray London.


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